sábado, 1 de fevereiro de 2014

Caos no Rio

Morei na Cidade Maravilhosa durante sete anos. Salvo um incidente na Linha Amarela, em que o ônibus em que eu estava ficou no meio de um tiroteio entre policiais e traficantes, e que graças a Deus não aconteceu nada com ninguém, nem dentro e nem fora, nunca tive maiores problemas lá. Meu segundo trabalho é fotografia e lá, eu, minha esposa e meu filho saíamos praticamente todo final de semana para registrar os pontos turísticos e também o cotidiano de uma das cidades mais bonitas do Brasil e do mundo.
Apesar de minhas ressalvas com o prefeito e com o governador, respectivamente Paes e Cabral, estava sentindo que, pelo menos no quesito segurança, as coisas estavam melhorando. Mas, um pouco antes de vir embora, senti que a cidade estava voltando a ficar perigosa. Nós, que andamos pelas ruas diariamente, temos aquele sentimento, quase como se fosse um sexto sentido, de que tinha alguma coisa errada. E as notícias nos jornais e relatos de amigos comprovaram esse sentimento. Muitos foram assaltados, em pontos de ônibus e em seus carros.  Até a irmã de um amigo foi espancada, ao ter a sua bicicleta roubada. Prédios no bairro em que eu morava, Botafogo, foram invadidos por ladrões, que, de apartamento em apartamento, fizeram um verdadeiro arrastão.

Enseada de Botafogo - Rio de Janeiro
Foto: Carlos Silva

Ao voltar, continuei a acompanhar as notícias da cidade que considero a minha segunda casa, além de sempre manter contato com os muitos amigos que fiz. É desalentador. O número de assaltos aumentou muito, muito mais do que dizem as estimativas oficiais, pois muitas pessoas não vão prestar queixa. As UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) instaladas nas principais favelas da cidade, para coibir a ação de traficantes, estão perdendo o controle. Ontem mesmo, uma delas, no Complexo do Alemão, sofreu um atentado. Um homem atirou um coquetel Molotov que, por sorte, não chegou a atingir o prédio. De Novembro de 2013 até agora, as favelas que tem UPPs sofreram com trocas de tiros, tanto entre polícia e traficantes, como entre facções de traficantes na disputa por pontos de vendas de drogas, que continuaram a funcionar, mesmo com o aumento de policiamento.
Não há mais tranquilidade nem mesmo nos pontos turísticos da cidade. No Aterro do Flamengo, ciclistas são assaltados diariamente. Na Floresta da Tijuca, um casal português foi atingido por tiros, numa falsa blitz feita por assaltantes. Em Copacabana, Ipanema e Leblon, os assaltos, roubos e furtos voltaram a ser comuns. Até mesmo cenas que pareciam pertencer ao passado, como os arrastões na praia e os "surfistas de ônibus" voltaram a aparecer.
Chegou-se ao cúmulo de, num assalto, a vítima foi espancada, deixada sem roupas e acorrentada à um poste, além de ter a sua moto levada.
Nem vou falar aqui dos problemas de transporte, da falta de água e energia em vários bairros da cidade, dos protestos anti-Copa, das desapropriações à força das favelas próximas ao Maracanã e das casas no Horto, do preço absurdo dos aluguéis, imóveis e bens de consumo. Isso sem falar no fato de que este é o verão mais quente e seco, não só no Rio, mas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, em muito tempo.
Mas, qual a relação disso com o sobrevivencialismo?
O que está acontecendo no Rio (e não só na segurança, mas também na infra-estrutura e na saúde) mostra a desintegração que está atingindo a sociedade como um todo. É cada vez mais difícil combater o crime. As forças de segurança não conseguem mais coibir a atividade criminosa, o tráfico de drogas, os assaltos, os sequestros, os assassinatos. Os tumultos e arrastões são como um ensaio do que pode acontecer quando o sistema desintegrar de vez.
Bati, bato e vou bater sempre nessa mesma tecla. Temos que nos manter preparados. Embora não seja possível para muitos, viver longe dos grandes centros faz com que as suas chances de sobrevivência sejam muito maiores. Pode parecer fatalista, catastrofista demais, mas a verdade é que a situação é muito mais séria do que a mídia diz que é. Tentam nos convencer de que um reservatório com 20% de sua capacidade é capaz de garantir o abastecimento de uma cidade na época em que se gasta mais água no ano. E que a geração de energia não será afetada, mesmo quando nas hidrelétricas os reservatórios estão secando. Podemos estar à beira de um grande apagão, ou de uma crise hídrica. Mas, em ano de Copa no Brasil, parece não haver interesse em discutir esses problemas. E todos nós poderemos ser pegos de surpresa. Por isso, volto à repetir, preparem-se!

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