Neste semana li um texto bastante interessante, que não tinha relação com o sobrevivencialismo, mas que se referia a quem acha que alguma tragédia vai acontecer num futuro próximo como "profetas do apocalipse".
Acho que foi uma colocação infeliz. Nenhum sobrevivencialista quer que uma crise aconteça. Ninguém em sã consciência quer ver a desintegração da nossa sociedade. Ninguém quer passar por blecautes generalizados, falhas da internet, crises econômicas ou pandemias, assim como ninguém quer sofrer com inundações, secas e violência. Mas o fato de não querer passar por elas não significa que devemos ficar despreocupados, com a guarda baixa.
Durante milênios, diversas crises quase puseram fim à humanidade. Acontecimentos como a Era Glacial e a Peste Negra nos ameaçaram bem de perto. Mas estes foram eventos que não foram causados pelo homem. A partir do século passado, em que a tecnologia passou a fazer parte da vida cotidiana, nos achamos senhores do mundo, e que nenhum fenômeno da natureza iria mais ameaçar a nossa existência. Mas esquecemos de dois fatos. O primeiro é que no Século XX, a tecnologia trouxe ao homem a capacidade de destruir a sua própria espécie. E não falo só da bomba atômica. As pesquisas genéticas com microrganismos, tanto para a cura de doenças, como para a criação de armas biológicas, além de modificações genéticas em plantas e animais, como os produtos transgênicos, trouxeram novas ameaças. O conhecimento humano sobre os genes é bastante incompleto. Não se sabe exatamente qual o efeito que essas mudanças artificiais podem trazer à vida. E nos laboratórios espalhados pelo mundo, microrganismos modificados e extremamente letais só esperam alguma falha de segurança, acidental ou intencional para se espalharem mundo afora com efeitos inimagináveis. As mudanças climáticas que estamos causando com as nossas atividades são gritantes, e, a cada ano, parecem se tornar um motivo cada vez maior de preocupação. O segundo fato é que a própria natureza é capaz de surpreender o homem de várias maneiras. Supervulcões, meteoros, mutações em microrganismos, tempestades solares, e outros fenômenos podem acabar, se não com a humanidade enquanto espécie, com a tecnologia do Século XXI e nos levar de volta às condições de antes da Revolução Industrial. Toda a nossa infra-estrutura tecnológica é frágil, e a cada dia se torna mais frágil.
É claro que, muitos dos fenômenos descritos acima tem pouca probabilidade de acontecer. Mas o meteoro da Russia no ano passado, que por muita sorte se desintegrou na atmosfera e não matou ninguém, mostra que o nosso conhecimento é, no mínimo, insuficiente. Ninguém perde o sono à noite preocupado com a queda de um meteoro, com uma possível erupção do supervulcão de Yellostone ou com o temor de um atentado terrorista atômico em Moscou. Mas todas essas possibilidades existem, e dar as costas à elas é burrice.
Na minha visão, um "profeta do apocalipse" não acredita que nada vai dar certo, que estamos condenados, que a Terra está num beco sem saída. Mas não é assim que o sobrevivencialista pensa. Pensamos apenas no seguinte: Seguro morreu de velho. Melhor prevenir que remediar. Como muitos, queremos um mundo melhor, mais justo, mais limpo, mais igual, mais feliz. Queremos um mundo sem drogas, sem doenças, sem poluição, sem problemas energéticos. Mas, estamos cientes de que, da maneira como tudo está estruturado hoje, teremos que passar por um choque muito grande para corrigir a direção de nossa caminhada. E, embora não seja garantia de sobrevivência, estar preparado para os choques, as crises, é a nossa filosofia de vida.
PS - O texto a que me referi no começo do post fala sobre a Copa do Mundo, e os "profetas do apocalipse" que acham que o torneio não dará certo. O autor faz referências até sobre o H1N1 e a pandemia que não houve. Quem se interessar e quiser ler esse texto, o título é Vai Ter Copa.
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