quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Coréia do Norte: Ridicularizar ou temer?

A Sony Pictures acaba de sofrer um prejuízo de cerca de duzentos milhões de dólares, por causa de um ataque hacker. Este ataque é atribuído à Coreia do Norte, por causa de uma comédia feita pelo estúdio de cinema, chamada A Entrevista, cujo roteiro se baseia numa tentativa fictícia de assassinato ao líder máximo do país, Kin Jong-un.
Embora tanto a Coreia do Norte, como os EUA neguem que tal ataque partiu deste país comunista, é óbvio que foi assim que aconteceu. E o temor gerado por tal feito foi tal que apenas dois cinemas nos EUA se dispuseram a exibir o filme.

Foto: American Uncensored News Network

O que podemos pensar então de tal acontecimento? Kin Jong-un é uma figura conhecida por seus excessos e maluquices, que causam risadas em quase todo o mundo (os norte-coreanos é que não devem achar nada engraçado, por respeito, ou o que é mais provável, por temor). Mas a verdade é que as grandes potências ocidentais não tem coragem de tomar uma atitude mais drástica contra o regime que, provavelmente, massacra a sua população. Parte porque este é apoiado pelo que hoje é o motor da economia mundial, a China. Parte porque os norte-coreanos tem armas nucleares, ainda que estas provavelmente só tenham alcance regional. Tal situação mantem a Coreia do Norte imune a possíveis ataques. Ou seja, serve como uma poderosa barreira de defesa.
O filme de comédia A Entrevista era mais um motivo para dar gargalhadas, através da provável ridicularização da figura de Kin Jong-un Porém, os norte-coreanos dessa vez não estavam com muito bom humor e mostraram que, se suas forças militares não são lá muito poderosas (provavelmente devem estar, em boa parte, sucateadas), seus meios de ataques cibernéticos tem o poder de arrepiar os cabelos da nuca de Barack Obama e demais líderes ocidentais. O ataque hacker teve tal magnitude que fez com que uma das companhias mais influentes do mundo preferisse ter um gigantesco prejuízo financeiro à enfrentar outros problemas.
Isso mostra que Kin Jong-un pode até ter parafusos a menos e um jeitão muito engraçado. Mas, no mundo totalmente interligado de hoje, em que tudo é controlado por computadores e internet, a Coreia do Norte tem um dos mais poderosos exércitos virtuais do mundo, além de ser o país menos vulnerável à ataques cibernéticos do globo, por causa de sua intra-estrutura antiquada. Um ataque hacker que desabilitasse, de alguma maneira, sistemas cruciais ao funcionamento de um país como os EUA, tais como sistemas de transações financeiras ou distribuição de energia, poderia arrasá-lo economicamente e trazer o caos total.
E, pela real possibilidade de que tais ataques possam ser executados, a decisão que a Sony tomou certamente tem influência governamental.
A verdade é vivemos um momento muito particular na história. Pela primeira vez os países mais desenvolvidos tecnologicamente são também os mais vulneráveis a ataques. E os atacantes não precisam gastar fortunas com armas de guerra. Formar pessoal com gigantescas habilidades para burlar os sistemas de proteção computacional de países desenvolvidos e grandes empresas multinacionais exige muito menos recursos que formar soldados.
Países como Coreia do Norte e Irã, e até mesmo movimentos como o Estado Islâmico, além outros grupos, desde neonazistas até mesmo traficantes de drogas, representam ameaças muito mais sérias hoje do que a 20, 30 anos atrás. Eles tem o poder de gerar verdadeiras SHTFs sem disparar um tiro sequer.
Não seria exagero dizer que as grandes potências temem, e muito, Kin Jong-un. E muitos, muitos outros grupos. Talvez até mesmo alguns dos quais o grande público nem tenha conhecimento...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Motorzinhos, cutelaria e outros delírios

Imagine a seguinte situação:

Você está no meio de uma crise braba no seu refúgio e precisa de um motorzinho de baixa potência para alguma aplicação. Existem duas opções:

1) Construir um, a partir de latinhas e pecinhas, como aparece em diversos vídeos legais na internet.
2) Adaptar um motor de motosserra ou de cortador de grama e retirar um pouco de combustível do tanque de seu carro ou sua moto para fazê-lo funcionar.

É óbvio que a opção 2 daria muito menos trabalho. Ao se preparar para uma crise, nada impede que você compre uma motosserra, Ou melhor ainda. Porque não comprar um kit de motor à combustão, à venda na internet? Você poderia adaptá-lo para diversos usos. A opção 1 dá aquela sensação de poder se virar sozinho. Mas, existem sérios entraves para ela. Primeiro, a potência útil de tal traquitana. Você pode pará-lo com a força de um dedo. E pra que diabos vai servir algo tão fraco? Depois, tem a questão da durabilidade. Quanto tempo você acha que tal coisa vai durar? Motores a combustão são feitos de metal que resiste melhor às altas temperaturas. Quanto tempo o metal frágil das latas aguentaria sem se deformar com a fonte de calor que o faz funcionar? E quanto tempo as vedações vão aguentar sem deixar o gás responsável pela troca de calor do motor escapar? Logo o motorzinho iria perder eficiência. E para concluir: Não é tão fácil fazer um motorzinho desses. Tudo tem que estar milimetricamente alinhado, ou não vai funcionar.
Sobrevivencialistas devem simplificar as coisas. Ao meu ver, esses motorzinhos e outras maquininhas mirabolantes soam apenas como delírios. Assim como é um esforço desnecessário ficar martelando um pedaço de metal quente por horas e horas pra fazer uma faca de eficiência duvidosa. Essas coisas não tem utilidade prática e só servem para desviar o foco do que é realmente importante. Se você quer construir algo, faça coisas que tenham real utilidade. Sistemas para coletar a água das chuvas, ou como cultivar determinados tipos de plantas são bons exemplos. Isso sim é importante, e vale à pena o esforço. Motores e facas podem ser facilmente incluídos numa preparação.
E tem mais: Durante uma crise e também nos meses ou anos do pós-crise, você acha que terá horas tranquilas para ficar construindo motores ou gogando metal? Acho que não...

Pensem bem à respeito. Construir tais traquitanas faz com que você se sinta bem. Mas na prática, o tempo poderia ser melhor aproveitado aprendendo algo que será realmente útil num mundo pós-SHTF. Existe uma frase no documentário Depois do Armagedom, que diz o seguinte:

Uma pessoa que saiba cultivar a terra será muito mais útil do que aquele que sabe fazer transações com ações.

Ou seja, procure obter conhecimentos cruciais. Não perca tempo com algo que não vai ser útil num cenário de crise. Seja prático.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

2015 - Um ano complicado

Antes de mais nada, gostaria de reforçar o que disse no post anterior, que espero sempre o melhor, mas me preparo para o pior.
Não quero que uma SHTF aconteça. Mas, claro, não podemos fechar os olhos para o cenário desafiador que se desdobra à nossa frente. 2015 vai ser um ano muito complicado, pelos seguintes fatores:

1) Climático.

Estamos passando pelo período mais seco da história. Embora os meios de comunicação não classifiquem 2013-2014 dessa maneira, não precisa ser meteorologista para perceber o óbvio. Com exceção do Sul e áreas do Norte do país, boa parte dos reservatórios de água no país, tanto para consumo como para geração de energia estão com um nível baixíssimo. Para se ter uma ideia, em 2001, ano do racionamento de energia, o nível médio de tais reservatórios estava em torno de 21%. Hoje, estão em 16%. Ainda não entramos num novo racionamento porque a queda de produção de energia hidrelétrica está sendo compensada por termoelétricas, uma medida mais cara e que causa um maior impacto ambiental. Porém, com a aproximação do verão e o consequente aumento de consumo elétrico, o temor dos especialistas é que o sistema entre em colapso, gerando apagões. E se tal coisa acontecer, além do impacto direto na rotina das pessoas, será gerado um outro impacto bem mais desagradável no próximo fator.

2) Econômico.

O Brasil não tem crescido. Essa é que é a verdade. E, aliado a isso, vemos um aumento da inflação, dos juros, uma estagnação no mercado de trabalho, contas públicas tão desordenadas, a ponto de se votar uma diminuição de metas de superávit primário, além de corrupção endêmica , para que o governo tenha que economizar menos, além da corrupção endêmica nas principais empresas estatais. A dura verdade também mostra que o governo fez investimentos que poderiam gerar crescimento sustentável, como os de infra-estrutura (inclusive de geração de energia e de abastecimento de água). O resultado é que o país está parando de crescer. E o que é pior, sem perspectiva de mudança desse quadro. O investidor estrangeiro, que é um dos fatores que fazem os países crescerem, volta a preferir praças mais confiáveis, como os EUA, que logo aumentarão sua taxa de juros, atraindo investimentos. E se a política econômica do governo já não transmite segurança, sem eficiência energética, haverá fuga de capitais em massa, impossibilitando ainda mais o crescimento.

Esse conjunto de fatores podem trazer consequências sérias para nós, cidadãos.

Sem um abastecimento de água e energia confiáveis, sem emprego, sem segurança. Seria um cenário de crise bem sério.

Eu acredito que, em relação ao quadro econômico, políticas equivocadas podem ser corrigidas. Os danos podem vir a ser controlados.
Mas, em relação ao fator climático, não temos como saber. O clima está cada vez mais imprevisível e modelos meteorológicos que funcionaram por décadas começam a se tornar inválidos.

Seja como for, manter-se preparado e atento a tudo o que nos cerca pode nos ajudar em 2015, 2016, 2017... 2099... sempre!

PS - O nível médio dos reservatórios de água para a geração de energia elétrica só está acima de 50% na região Sul. Em todas as demais regiões, está bem abaixo disso, como pode ser visto na página do ONS. Este é um fato bem preocupante. Ainda mais porque neste país as providências só são realmente tomadas depois que o problema aparece e causa um grande impacto...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Não queremos o caos

Todo sobrevivencialista que se preze ESPERA PELO MELHOR, mas se prepara para o pior.
Porque digo isso?
Ultimamente tenho visto nas comunidades sobrevivencialistas uma torcida para que "alguma coisa" aconteça e o mundo entre em caos. Desculpem-me as palavras, mas isso é a coisa mais IDIOTA que alguém pode desejar.
Eu sinto arrepios ao pensar num mundo pós-SHTF (se eu chegasse à sobreviver a um evento gerador de caos). Não vou nem falar nas coisas que fazem parte do nosso mundo e que perderíamos. Da cerveja gelada ao Youtube. Da xícara de café na padaria ao Whatsapp. Da festinha com os amigos ao Facebook. Só isso já traria uma gigantesca sensação de perda. Muita gente já quase surta quando não tem sinal de wi-fi nos locais aonde elas vão...Imagina como ficariam numa falha generalizada e muito mais profunda...
A minha maior preocupação (e a de qualquer pessoa que não tenha sangue de barata) seria com as pessoas que de gostamos. Como seus amigos (muitos dos quais não compartilham do ponto de vista sobrevivencialista) estariam se virando? Estariam eles ainda vivos? E os primos, tios, avós, irmãos? E os que estão em outras cidades/países? E se os seus pais ou seus filhos estão em outros locais? E se, mesmo tomando todas as providências para reunir seu núcleo sobrevivencialista, algumas das pessoas não conseguissem chegar?
Sempre existe alguém que não tem família, não tem amigos, que é o verdadeiro exemplo de ermitão. Mas esses são muito raros. E, na minha opinião, não batem muito bem da bola.
Outra coisa. Você acha que, em caso de caos generalizado, vai sair das cidades, com a sua BOB, seu transporte e suas armas tranquilamente? Vai passar por todos os inúmeros obstáculos impunemente e vai conseguir tomar um refúgio de alguém "na moral"?
ACORDE!
No caos, tudo é IMPREVISÍVEL! Você realmente pode conseguir tudo isso que descrevi acima sozinho. Mas a probabilidade de você nem ao menos conseguir sair do bairro em que mora num cenário de crise é muito, muito maior! Já é complicado em dias normais. O trânsito e os assaltos são algo comum nas nossas rotinas. Imagine como ficaria numa situação em que as forças da lei estariam inoperantes.
Por isso digo: NÃO QUERO TESTEMUNHAR JAMAIS UMA SHTF, MAS ME PREPARO. Ao me preparar, espero ter um pouco mais de chance de sobreviver, caso algo assim aconteça. Mas, tenho em mente que não sou nenhum Bear Grylls ou Rick Grimes. Sou um simples cidadão brasileiro um pouco mais ligado nos possíveis problemas que possam vir a acontecer...