Nos últimos dias, a Ucrânia foi palco de gigantescas manifestações. O agora ex presidente ucraniano, Viktor Yanukovych desfez um acordo com a União Européia, que já estava sendo negociado desde 2011, e resolveu se aproximar ainda mais da Rússia.
A Ucrânia é de vital importância para os russos. Além de ser um importante mercado consumidor de gás, ainda é atravessada pelos gasodutos eslavos, que distribuem o produto para a Europa, sendo uma das principais fontes de renda da maior república da antiga União Soviética. Os russos também mantém boa parte de seu poder militar em Sebastopol, cidade litorânea ucraniana, que foi arrendada por eles em troca da diminuição de 30% do custo do gás para a Ucrânia.
O país é basicamente dividido em duas populações. Os mais jovens, falam ucraniano e querem uma aproximação maior com a Europa. Os mais velhos, falam russo e tem saudades dos tempos de glória da era soviética. A Rússia não tem interesse em permitir que a Ucrânia se aproxime da União Européia, pois isso implicaria na possível taxação de seu gás e em complicações relativas à sua base militar. Em outras palavras, os russos perderiam muito dinheiro e influência. Exatamente o que querem as potências ocidentais. Controlar a Ucrânia seria controlar o gás russo. A Rússia também seria obrigada a ceder em várias questões importantes, até mesmo em relação à vetos no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Analisando bem a situação, vemos que Yanukovych era um fantoche de Vladmir Putin. Mas, depois das mortes nos protestos, Yanukovych preferiu abandonar o poder e fugir. Agora, a Ucrânia tenta criar um governo provisório capitaneado por Olexander Turchynov, com clara tendência a se aproximar do Ocidente. A população pró Rússia não aceita tal governo e os riscos de surgirem movimentos separatistas é grande, o que não seria interessante para os russos. Vê-se surgindo no horizonte uma união ucraniana feita à força, por intermédio de uma intervenção militar, nos moldes da Primavera de Praga. Só que, ao contrário dos anos de bipolarização da década de 1960, os russos não estariam invadindo o seu "quintal". As potências ocidentais certamente vão se opor se tal movimento ocorrer. De que forma isso acontecerá, não se sabe. Depois da crise Síria, em que a Rússia acabou saindo vencedora ao impedir um ataque ocidental ao país árabe, uma outra derrota seria vista pelo mundo como um claro sinal de fraqueza e covardia do Ocidente. Mas, ao mesmo tempo, deve-se lembrar que a Rússia tem o segundo maior arsenal nuclear do planeta. Os EUA, pareciam estar num período em que há muito mais preocupações internas que externas. Mas, percebendo os possíveis desdobramentos da crise ucraniana, já entraram em cena para capitanear as negociações do lado ocidental.
Uma situação potencialmente séria começa a surgir. A Guerra Fria do Século XXI é muito mais complicada. Existem muito mais países participantes. E, ao contrário de sua análoga do século passado, a ligação entre os, digamos, blocos, é muito mais intensa, principalmente no que diz respeito à economia. O que um faz, afeta não só o seu adversário, mas também o mundo todo.
É esperar para ver...
Mantenham-se preparados...
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Sobre trânsito e caos
A minha rotina exige que eu faça uso constante do carro. E, é um pesadelo. Não é raro o dia em que acabo vendo um acidente. E não é raro o dia em que motoqueiros alucinados e motoristas apressados quase causam acidentes que poderiam ser muito sérios.
Porque as pessoas estão dirigindo de forma totalmente irresponsável e inconsequente? Vai além da falta de educação. É algo mais básico. Se você parar para pensar, não vale a pena um motoqueiro atravessar na frente do seu carro, tirando tinta, literalmente, de seu para-choques. Se ele se desequilibra, pode até morrer, ou ficar seriamente machucado. Para que isso? Quantos segundos ele perderia ao ser prudente? Por mais mal educado que um motorista possa ser, simplesmente não dá para entender o porque de arriscar a vida fazendo maluquices, dirigindo sem pensar. Esse é o ponto. Na correria da vida diária, com a pressão cada vez maior por resultados, na pressa cada vez maior em ganhar dinheiro, as pessoas parecem estar arriscando cada vez mais por cada vez menos. Só assim para entender o que acontece no trânsito.
Agora, pare para pensar. Se é assim no trânsito, porque não o seria em setores realmente críticos da civilização? Quem nos garante que o tráfego aéreo é seguro? Com o crescimento do número de voos no país e com a precariedade de nossa infra-estrutura, quantos quase acidentes devem ocorrer nos céus do Brasil todos os dias? E o nosso sistema de produção de alimentos? Quem nos garante que o que estamos consumindo passou realmente por todos os controles de qualidade? Voltando à questão do trânsito, vocês têm reparado na quantidade de recalls da indústria automobilística ultimamente? Isso indica sérias falhas no processo produtivo, sem dúvida por causa da pressa e da extrema competitividade. Será que nossas redes de distribuição de energia são realmente eficientes, ou estão quase no limite? E as usinas nucleares de Angra? São realmente seguras ou estão operando com requisitos mínimos de segurança, ainda mais com o consumo recorde de energia do país em 2014? Será que ainda não aconteceu nada mais sério por uma questão de sorte? Vejam os sistemas de transporte urbano das grandes cidades brasileiras e o número excessivo de falhas, que acabam com a paciência da população.
Muitos estudos mostram que, em estados de grande pressão por demanda, muitos procedimentos que garantiriam o bom funcionamento de sistemas são postos de lado. Então, no trânsito, um motoboy que tem que entregar uma pizza ou um documento urgentemente esquece de procedimentos básicos de segurança para cumprir a tarefa, porque senão ele vai perder dinheiro e não vai conseguir sustentar a família. Um caminhão que poderia carregar no máximo 10 toneladas com segurança, carrega 20. E se o dono do veículo recusar, ele sabe que vai perder a carga, e vai perder dinheiro. E por aí vai.
É por essas e outras que, com cada vez mais pressão, alguém alguma hora vai cometer um erro de julgamento e vai gerar uma crise muito grave. Com sistemas cada vez mais sobrecarregados e frágeis, parece ser uma questão de tempo...
Mantenham-se preparados
Porque as pessoas estão dirigindo de forma totalmente irresponsável e inconsequente? Vai além da falta de educação. É algo mais básico. Se você parar para pensar, não vale a pena um motoqueiro atravessar na frente do seu carro, tirando tinta, literalmente, de seu para-choques. Se ele se desequilibra, pode até morrer, ou ficar seriamente machucado. Para que isso? Quantos segundos ele perderia ao ser prudente? Por mais mal educado que um motorista possa ser, simplesmente não dá para entender o porque de arriscar a vida fazendo maluquices, dirigindo sem pensar. Esse é o ponto. Na correria da vida diária, com a pressão cada vez maior por resultados, na pressa cada vez maior em ganhar dinheiro, as pessoas parecem estar arriscando cada vez mais por cada vez menos. Só assim para entender o que acontece no trânsito.
Agora, pare para pensar. Se é assim no trânsito, porque não o seria em setores realmente críticos da civilização? Quem nos garante que o tráfego aéreo é seguro? Com o crescimento do número de voos no país e com a precariedade de nossa infra-estrutura, quantos quase acidentes devem ocorrer nos céus do Brasil todos os dias? E o nosso sistema de produção de alimentos? Quem nos garante que o que estamos consumindo passou realmente por todos os controles de qualidade? Voltando à questão do trânsito, vocês têm reparado na quantidade de recalls da indústria automobilística ultimamente? Isso indica sérias falhas no processo produtivo, sem dúvida por causa da pressa e da extrema competitividade. Será que nossas redes de distribuição de energia são realmente eficientes, ou estão quase no limite? E as usinas nucleares de Angra? São realmente seguras ou estão operando com requisitos mínimos de segurança, ainda mais com o consumo recorde de energia do país em 2014? Será que ainda não aconteceu nada mais sério por uma questão de sorte? Vejam os sistemas de transporte urbano das grandes cidades brasileiras e o número excessivo de falhas, que acabam com a paciência da população.
Muitos estudos mostram que, em estados de grande pressão por demanda, muitos procedimentos que garantiriam o bom funcionamento de sistemas são postos de lado. Então, no trânsito, um motoboy que tem que entregar uma pizza ou um documento urgentemente esquece de procedimentos básicos de segurança para cumprir a tarefa, porque senão ele vai perder dinheiro e não vai conseguir sustentar a família. Um caminhão que poderia carregar no máximo 10 toneladas com segurança, carrega 20. E se o dono do veículo recusar, ele sabe que vai perder a carga, e vai perder dinheiro. E por aí vai.
É por essas e outras que, com cada vez mais pressão, alguém alguma hora vai cometer um erro de julgamento e vai gerar uma crise muito grave. Com sistemas cada vez mais sobrecarregados e frágeis, parece ser uma questão de tempo...
Mantenham-se preparados
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Sobrevivencialismo e Cidades
As grandes cidades definitivamente são o pior lugar para se estar em dias normais. Em cenários de crise então, nem se fala. O trânsito é terrível, as distâncias muito grandes, as aglomerações de pessoas muito intensas. A qualidade do ar e dos serviços, especialmente os de transporte e saúde não é boa. Os custos são altos.
Num cenário de crise, as cidades se tornariam insuportáveis. Mesmo para um sobrevivencialista. Para começar, é preciso sorte. Em crises que comecem de forma repentina, como um blecaute, estar fora de casa é um problema sério. A maioria das pessoas nas cidades moram a 20, 30 km de seu trabalho. Uma queda de energia faz com que os semáforos parem, e como consequência, o trânsito para. Os trens e metrô, movidos à eletricidade, também param. Se tal situação ocorrer em horário de pico, muita gente ficara presa neles. Dependendo da duração do blecaute, não restara outra alternativa a não ser andar. Sabemos que as cidades são inseguras e que, certamente, muitos meliantes aproveitarão a falta de energia para praticar atividade criminosa. Portanto, a sorte é necessária para se estar em casa, ou pelo menos perto de casa.
Se a crise se estender por 3 ou 4 dias, o lixo tomará conta das ruas, faltará água e comida, faltará gás e combustível. As forças policiais ficarão sem ação. Morar em prédios de apartamentos, especialmente nos últimos andares não será nada fácil sem energia. Só o fato de ter que subir e descer dezenas de andares de escada será torturante, especialmente para os mais velhos e mais frágeis.
Sair das cidades após o começo de uma crise não será nada fácil. Mesmo que se tenha algum meio de transporte, as estradas estarão bloqueadas, e as ruas muito perigosas. Muitos grupos de pessoas se organizarão para conseguir os recursos de que precisarem, e de todas as formas possíveis. Entre estes indivíduos provavelmente estarão policiais e soldados, que usarão seus uniformes para enganar quem tem anseio por alguma segurança.
O sobrevivencialista urbano se preparará para ficar 2, 3 meses sem sair de casa. Mas mesmo assim, terá sempre que prestar extrema atenção na vizinhança. Será difícil manter o local adequadamente higienizado, pois, o abastecimento de água e o sistema de coleta de esgotos estará comprometido. Nas ruas, o acúmulo de lixo e sujeira atrairá toda a sorte de animais nocivos, tais como ratos e baratas. E eles certamente vão acabar por invadir as casas e apartamentos. Dependendo da época do ano em que a crise aconteça, ainda se tem o agravante do extremo calor e das poucas possibilidades de combatê-lo.
Quem tem a filosofia sobrevivencialista e vive em grandes cidades, deveria ter como meta deixá-las. Muitos profissionais hoje em dia conseguem trabalhar remotamente. Outros, podem conseguir empregos em cidades menores. Certamente vão ganhar menos, mas gastarão menos e terão mais qualidade de vida. Mas, para muitos sobrevivencialistas que nasceram e foram criados em metrópoles é muito mais complicado deixá-las. Laços familiares e afetivos são muito fortes. Nesses casos, deve-se ao menos tentar convencer as pessoas de quem se gosta a se preparar, e bolar métodos que facilitem o enfrentamento de crises.
Mantenham-se preparados, onde quer que estejam!
Num cenário de crise, as cidades se tornariam insuportáveis. Mesmo para um sobrevivencialista. Para começar, é preciso sorte. Em crises que comecem de forma repentina, como um blecaute, estar fora de casa é um problema sério. A maioria das pessoas nas cidades moram a 20, 30 km de seu trabalho. Uma queda de energia faz com que os semáforos parem, e como consequência, o trânsito para. Os trens e metrô, movidos à eletricidade, também param. Se tal situação ocorrer em horário de pico, muita gente ficara presa neles. Dependendo da duração do blecaute, não restara outra alternativa a não ser andar. Sabemos que as cidades são inseguras e que, certamente, muitos meliantes aproveitarão a falta de energia para praticar atividade criminosa. Portanto, a sorte é necessária para se estar em casa, ou pelo menos perto de casa.
Se a crise se estender por 3 ou 4 dias, o lixo tomará conta das ruas, faltará água e comida, faltará gás e combustível. As forças policiais ficarão sem ação. Morar em prédios de apartamentos, especialmente nos últimos andares não será nada fácil sem energia. Só o fato de ter que subir e descer dezenas de andares de escada será torturante, especialmente para os mais velhos e mais frágeis.
Sair das cidades após o começo de uma crise não será nada fácil. Mesmo que se tenha algum meio de transporte, as estradas estarão bloqueadas, e as ruas muito perigosas. Muitos grupos de pessoas se organizarão para conseguir os recursos de que precisarem, e de todas as formas possíveis. Entre estes indivíduos provavelmente estarão policiais e soldados, que usarão seus uniformes para enganar quem tem anseio por alguma segurança.
O sobrevivencialista urbano se preparará para ficar 2, 3 meses sem sair de casa. Mas mesmo assim, terá sempre que prestar extrema atenção na vizinhança. Será difícil manter o local adequadamente higienizado, pois, o abastecimento de água e o sistema de coleta de esgotos estará comprometido. Nas ruas, o acúmulo de lixo e sujeira atrairá toda a sorte de animais nocivos, tais como ratos e baratas. E eles certamente vão acabar por invadir as casas e apartamentos. Dependendo da época do ano em que a crise aconteça, ainda se tem o agravante do extremo calor e das poucas possibilidades de combatê-lo.
Quem tem a filosofia sobrevivencialista e vive em grandes cidades, deveria ter como meta deixá-las. Muitos profissionais hoje em dia conseguem trabalhar remotamente. Outros, podem conseguir empregos em cidades menores. Certamente vão ganhar menos, mas gastarão menos e terão mais qualidade de vida. Mas, para muitos sobrevivencialistas que nasceram e foram criados em metrópoles é muito mais complicado deixá-las. Laços familiares e afetivos são muito fortes. Nesses casos, deve-se ao menos tentar convencer as pessoas de quem se gosta a se preparar, e bolar métodos que facilitem o enfrentamento de crises.
Mantenham-se preparados, onde quer que estejam!
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Roupas, Calçados e Preparação
Quando fazemos uma preparação à longo prazo, pensamos em tudo: Comida, remédios, abrigo, armas, produtos de higiene e limpeza. Mas, geralmente nos esquecemos das roupas e calçados.
É importante fazer uma preparação levando em conta também as roupas e calçados, além de produtos necessários para o seu reparo/limpeza. Para começar, na hora de escolher as roupas, invista em peças resistentes e que possam ser reparadas com relativa facilidade, como calças jeans, camisas e camisetas de algodão. Se na região em que você mora o uso de casacos for necessário, invista em modelos que podem ser reparados com facilidade. Jaquetas jeans podem ser uma boa. Mas casacos de tecidos sintéticos ou de lã também, embora se precise tomar um pouco mais de cuidado com o seu uso, por serem mais difíceis de reparar. Também é bom ter em seu estoque peças leves, como calções e bermudas, para os dias mais quentes.
É interessante fazer um grande estoque de meias, pois, são peças baratas, mas que se estragam depois de muito uso e são mais difíceis de consertar. Em lojas populares, você encontra pacotes com até 12 pares por um preço bem razoável. Vale o mesmo para roupas íntimas. Fazer um estoque grande dessas peças é muito interessante, pois, ficar sem elas pode ser bem desconfortável para a maioria das pessoas. No caso das mulheres, a roupa íntima, especialmente o sutiã, é relativamente caro, especialmente se for uma peça de qualidade. Mas, vale a fazer um esforço no sentido de se criar um estoque.
Deve-se fazer também um estoque de calçados. Botas e tênis são uma boa pedida. No primeiro caso, existem diversas opções, deste coturnos usados pelo Exército, que primam pela resistência, até botas para trilhas, que, além de resistentes, são confortáveis, embora bem mais caras. Já os tênis não são tão resistentes, mas são bem confortáveis, e, se você não vai se aventurar por caminhos muito íngremes, podem ser uma boa opção. Existem tênis em todas as faixas de preço. É importante também ter sandálias, como as de borracha, para momentos em que você vai permanecer dentro do abrigo. Não aconselharia o uso delas nas saídas, pois é bom evitar qualquer tipo de ferimentos nos pés, num cenário de crise.
Outros produtos que devem ser incluídos na sua preparação são colchas, lençóis, mantas e colchões.
É bom aprender também técnicas de lavagem de suas roupas, usando pouca água e sabão, pois, durante uma crise, provavelmente você não poderá usar a sua máquina de lavar, que é extremamente dispendiosa em termos de água e energia. Também é bom aprender algumas técnicas de costura, caso seja necessário consertar alguma roupa. Inclua também nas suas preparações, carretéis de linha e agulhas.
Além do conforto, físico e psicológico, de se ter roupas e calçados bem conservados, limpos e confortáveis, dependendo da intensidade e da duração da crise, uma parte de seu estoque poderá até ser usado como moeda de troca, bastante valiosa.
Mantenham-se preparados!
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
"Profetas do Apocalipse"?
Neste semana li um texto bastante interessante, que não tinha relação com o sobrevivencialismo, mas que se referia a quem acha que alguma tragédia vai acontecer num futuro próximo como "profetas do apocalipse".
Acho que foi uma colocação infeliz. Nenhum sobrevivencialista quer que uma crise aconteça. Ninguém em sã consciência quer ver a desintegração da nossa sociedade. Ninguém quer passar por blecautes generalizados, falhas da internet, crises econômicas ou pandemias, assim como ninguém quer sofrer com inundações, secas e violência. Mas o fato de não querer passar por elas não significa que devemos ficar despreocupados, com a guarda baixa.
Durante milênios, diversas crises quase puseram fim à humanidade. Acontecimentos como a Era Glacial e a Peste Negra nos ameaçaram bem de perto. Mas estes foram eventos que não foram causados pelo homem. A partir do século passado, em que a tecnologia passou a fazer parte da vida cotidiana, nos achamos senhores do mundo, e que nenhum fenômeno da natureza iria mais ameaçar a nossa existência. Mas esquecemos de dois fatos. O primeiro é que no Século XX, a tecnologia trouxe ao homem a capacidade de destruir a sua própria espécie. E não falo só da bomba atômica. As pesquisas genéticas com microrganismos, tanto para a cura de doenças, como para a criação de armas biológicas, além de modificações genéticas em plantas e animais, como os produtos transgênicos, trouxeram novas ameaças. O conhecimento humano sobre os genes é bastante incompleto. Não se sabe exatamente qual o efeito que essas mudanças artificiais podem trazer à vida. E nos laboratórios espalhados pelo mundo, microrganismos modificados e extremamente letais só esperam alguma falha de segurança, acidental ou intencional para se espalharem mundo afora com efeitos inimagináveis. As mudanças climáticas que estamos causando com as nossas atividades são gritantes, e, a cada ano, parecem se tornar um motivo cada vez maior de preocupação. O segundo fato é que a própria natureza é capaz de surpreender o homem de várias maneiras. Supervulcões, meteoros, mutações em microrganismos, tempestades solares, e outros fenômenos podem acabar, se não com a humanidade enquanto espécie, com a tecnologia do Século XXI e nos levar de volta às condições de antes da Revolução Industrial. Toda a nossa infra-estrutura tecnológica é frágil, e a cada dia se torna mais frágil.
É claro que, muitos dos fenômenos descritos acima tem pouca probabilidade de acontecer. Mas o meteoro da Russia no ano passado, que por muita sorte se desintegrou na atmosfera e não matou ninguém, mostra que o nosso conhecimento é, no mínimo, insuficiente. Ninguém perde o sono à noite preocupado com a queda de um meteoro, com uma possível erupção do supervulcão de Yellostone ou com o temor de um atentado terrorista atômico em Moscou. Mas todas essas possibilidades existem, e dar as costas à elas é burrice.
Na minha visão, um "profeta do apocalipse" não acredita que nada vai dar certo, que estamos condenados, que a Terra está num beco sem saída. Mas não é assim que o sobrevivencialista pensa. Pensamos apenas no seguinte: Seguro morreu de velho. Melhor prevenir que remediar. Como muitos, queremos um mundo melhor, mais justo, mais limpo, mais igual, mais feliz. Queremos um mundo sem drogas, sem doenças, sem poluição, sem problemas energéticos. Mas, estamos cientes de que, da maneira como tudo está estruturado hoje, teremos que passar por um choque muito grande para corrigir a direção de nossa caminhada. E, embora não seja garantia de sobrevivência, estar preparado para os choques, as crises, é a nossa filosofia de vida.
PS - O texto a que me referi no começo do post fala sobre a Copa do Mundo, e os "profetas do apocalipse" que acham que o torneio não dará certo. O autor faz referências até sobre o H1N1 e a pandemia que não houve. Quem se interessar e quiser ler esse texto, o título é Vai Ter Copa.
Acho que foi uma colocação infeliz. Nenhum sobrevivencialista quer que uma crise aconteça. Ninguém em sã consciência quer ver a desintegração da nossa sociedade. Ninguém quer passar por blecautes generalizados, falhas da internet, crises econômicas ou pandemias, assim como ninguém quer sofrer com inundações, secas e violência. Mas o fato de não querer passar por elas não significa que devemos ficar despreocupados, com a guarda baixa.
Durante milênios, diversas crises quase puseram fim à humanidade. Acontecimentos como a Era Glacial e a Peste Negra nos ameaçaram bem de perto. Mas estes foram eventos que não foram causados pelo homem. A partir do século passado, em que a tecnologia passou a fazer parte da vida cotidiana, nos achamos senhores do mundo, e que nenhum fenômeno da natureza iria mais ameaçar a nossa existência. Mas esquecemos de dois fatos. O primeiro é que no Século XX, a tecnologia trouxe ao homem a capacidade de destruir a sua própria espécie. E não falo só da bomba atômica. As pesquisas genéticas com microrganismos, tanto para a cura de doenças, como para a criação de armas biológicas, além de modificações genéticas em plantas e animais, como os produtos transgênicos, trouxeram novas ameaças. O conhecimento humano sobre os genes é bastante incompleto. Não se sabe exatamente qual o efeito que essas mudanças artificiais podem trazer à vida. E nos laboratórios espalhados pelo mundo, microrganismos modificados e extremamente letais só esperam alguma falha de segurança, acidental ou intencional para se espalharem mundo afora com efeitos inimagináveis. As mudanças climáticas que estamos causando com as nossas atividades são gritantes, e, a cada ano, parecem se tornar um motivo cada vez maior de preocupação. O segundo fato é que a própria natureza é capaz de surpreender o homem de várias maneiras. Supervulcões, meteoros, mutações em microrganismos, tempestades solares, e outros fenômenos podem acabar, se não com a humanidade enquanto espécie, com a tecnologia do Século XXI e nos levar de volta às condições de antes da Revolução Industrial. Toda a nossa infra-estrutura tecnológica é frágil, e a cada dia se torna mais frágil.
É claro que, muitos dos fenômenos descritos acima tem pouca probabilidade de acontecer. Mas o meteoro da Russia no ano passado, que por muita sorte se desintegrou na atmosfera e não matou ninguém, mostra que o nosso conhecimento é, no mínimo, insuficiente. Ninguém perde o sono à noite preocupado com a queda de um meteoro, com uma possível erupção do supervulcão de Yellostone ou com o temor de um atentado terrorista atômico em Moscou. Mas todas essas possibilidades existem, e dar as costas à elas é burrice.
Na minha visão, um "profeta do apocalipse" não acredita que nada vai dar certo, que estamos condenados, que a Terra está num beco sem saída. Mas não é assim que o sobrevivencialista pensa. Pensamos apenas no seguinte: Seguro morreu de velho. Melhor prevenir que remediar. Como muitos, queremos um mundo melhor, mais justo, mais limpo, mais igual, mais feliz. Queremos um mundo sem drogas, sem doenças, sem poluição, sem problemas energéticos. Mas, estamos cientes de que, da maneira como tudo está estruturado hoje, teremos que passar por um choque muito grande para corrigir a direção de nossa caminhada. E, embora não seja garantia de sobrevivência, estar preparado para os choques, as crises, é a nossa filosofia de vida.
PS - O texto a que me referi no começo do post fala sobre a Copa do Mundo, e os "profetas do apocalipse" que acham que o torneio não dará certo. O autor faz referências até sobre o H1N1 e a pandemia que não houve. Quem se interessar e quiser ler esse texto, o título é Vai Ter Copa.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Informação Útil: Armas permitidas Segundo a Legislação Brasileira
Carabina Rossi .44 Foto: Rossi |
Eis uma lista das armas de fogo permitidas aqui no Brasil:
- espingardas e todas as armas de fogo, congêres de alma lisa, de qualquer modelo, tipo, calibre ou sistema;
- armas de fogo raiadas, longas, de uso civil já consagrado, como carabinas, rifles e armas semelhantes, até o calibre .44 (11,17mm), inclusive, estando excetuadas ao uso permitido, apesar de terem calibres inferiores ao máximo admitido acima (11,17mm), as armas de calibres consagrados como armamento militar padronizado, como, por exemplo, 7mm; 7,62mm (.30); 223;
- revólveres, até o calibre .38 (9,65mm), inclusive;
- pistolas semi-automáticas, até o calibre .380 ACP (9mm curto):
- garruchas, até o calibre .380 (9,65mm), inclusive;
- espingardas ou pistolas de pressão por molas (que atiram setas ou pequenos grãos de chumbo ou balas pequenas, de matéria plástica), até o calibre 6mm, inclusive;
- armas que tenham por finalidade dar partida em competições desportivas, que utilizem cartuchos contendo, exclusivamente, pólvora e que são conhecidas, na gíria dos armeiros, pelo nome de "espanta-ladrão";
- cartuchos vazios, semicarregados e carregados com chumbo, conhecidos como cartuchos de caça, quaisquer que sejam os respectivos calibres e os diâmetros dos grãos de chumbo com que são carregados;
- cartuchos carregados com balas, para armas de fogo raiadas, de uso permitido, exceto as que, embora dentro dos calibres permitidos, possam multiplicar estilhaços no tiro, possuam ação explosiva ou incendiária ao impacto do projétil ou possuam características que só as indiquem para emprego em fins policiais ou militares;
- chumbo de caça, inclusive a escumilha;
- lunetas e acessórios para as armas de uso permitido.
Embora aqui no Brasil não se pode ter armas com calibres de uso miliar (como o 7,62mm) e nem armas automáticas de nenhum calibre, pode-se ter acesso à armas muito poderosas, que impõem bastante respeito, como as de calibre .357 Magnun e as .44. Exitem na internet vários vídeos demonstrando o poder de fogo desses calibres. Lembrando sempre que, ao comprar uma arma, deve-se observar os termos da Legislação. Além disso, é proibido andar armado. Em caso de transporte da arma, deve-se requisitar uma Guia de Transporte à Polícia Federal. Além disso, arma e munição devem ser guardadas em compartimentos separados, ou seja, a arma não pode estar carregada.
Mantenham-se preparados. E atentos.
Sobre vulnerabilidade e hackers
Os índices das principais bolsas de valores do mundo caem brutalmente no começo dos pregões na Segunda Feira. As ações das principais empresas perdem valor rapidamente. Isso gera uma avalanche de ordens de venda, pois os investidores querem evitar perder mais dinheiro. Logo, se descobre que tudo não passou de um erro, causado intencionalmente por vírus de computador. Mas, já era tarde demais. As quedas nas cotações foram tão grandes que todas as bolsas param. Esta aberto o caminho para uma crise econômica sem precedentes.
O piloto de um drone de ataque da Força Aérea dos EUA perde o controle sobre seu aparelho em um teste sobre o Mar do Norte. Este drone carrega duas bombas com alto poder de destruição. Sem poder fazer nada, o piloto vê o aparelho voando em direção à um navio cargueiro da Rússia, e fica aterrorizado quando o drone lança as suas bombas e atinge o navio em cheio, afundando-o e matando toda a tripulação. O drone foi hackeado. Embora os americanos tentem convencer os russos de que o que houve foi uma falha, estes não acreditam na explicação e a tensão entre os países aumenta à níveis que não se viam desde o fim da antiga URSS.
Em vários aeroportos no mundo, aeronaves caem a poucas centenas de metros das pistas. O sistema de navegação GPS foi desabilitado por hackers que acessaram os computadores que controlam os satélites e os fizeram acionar seus foguetes de manobra de tal maneira que a transmissão de sinais ficou totalmente prejudicada. Todos os voos comerciais no planeta foram cancelados.
Estas três situações descritas acima são possíveis e talvez nem tão improváveis assim. Se muitos creem que os sistemas comerciais, militares e governamentais são extremamente seguros, reconsiderem.
Muito embora todos esses sistemas sejam defendidos pelos profissionais especialistas em segurança da computação mais competentes do mundo, do outro lado há também verdadeiros gênios querendo sobrepujar as defesas computacionais e levar o caos à uma determinada organização, instituição, ou até mesmo, país. Governos como o norte-coreano e grupos terroristas como a Al-Qaeda certamente tem em seus exércitos guerreiros digitais bastante capazes.
Além disso, sempre há o inesperado. A NSA, agência de segurança nacional dos EUA, foi infiltrada, de dentro. Eduard Snowden, analista da referida agência, conseguiu divulgar para o mundo todo o programa americano de espionagem aos próprios aliados, entre eles Alemanha, Inglaterra e Brasil. Ele fez isso usando softwares de baixo custo bastante populares na Internet para acessar os documentos que circulavam na rede interna da agência. Ninguém esperaria que um "traidor" trabalhasse na NSA e por isso não se preocuparam tanto com a eficácia das medidas de prevenção à acessos não autorizados vindos de dentro.
Quem garante então que hackers não possam ser contratados para trabalhar nas empresas ou governos que eles querem destruir? Quem garante que já não haja hackers trabalhando nas bolsas de valores, nas agências espaciais, nos centros militares?
Muito embora computadores, internet e GPS tenham trazido uma verdadeira revolução na maneira como o mundo trabalha, se comunica e se orienta, também aumentou o grau de vulnerabilidade. Há 40 anos, poucas pessoas sentiriam falta de um computador. A internet nem era conhecida. E a navegação se dava por bússolas, mapas, e nos veículos mais avançados, sistemas inerciais e radiofarol. Hoje, sem computadores e internet, não se poderia nem fazer uma compra em um supermercado. Todos os principais sistemas são controlados por computadores e internet. De transações bancárias à geração de energia. Sem GPS, muitos não saberiam se orientar nem nas suas próprias cidades, aviões e navios ficariam sem rumo.
A cada dia em que a tecnologia vai ficando mais complexa, também vai ficando mais vulnerável. Falhas que nem seriam notadas há 20 anos, hoje podem ser catastróficas. E os hackers, governos e grupos terroristas sabem disso.
Portanto, mantenham-se preparados e atentos. Sempre.
O piloto de um drone de ataque da Força Aérea dos EUA perde o controle sobre seu aparelho em um teste sobre o Mar do Norte. Este drone carrega duas bombas com alto poder de destruição. Sem poder fazer nada, o piloto vê o aparelho voando em direção à um navio cargueiro da Rússia, e fica aterrorizado quando o drone lança as suas bombas e atinge o navio em cheio, afundando-o e matando toda a tripulação. O drone foi hackeado. Embora os americanos tentem convencer os russos de que o que houve foi uma falha, estes não acreditam na explicação e a tensão entre os países aumenta à níveis que não se viam desde o fim da antiga URSS.
Em vários aeroportos no mundo, aeronaves caem a poucas centenas de metros das pistas. O sistema de navegação GPS foi desabilitado por hackers que acessaram os computadores que controlam os satélites e os fizeram acionar seus foguetes de manobra de tal maneira que a transmissão de sinais ficou totalmente prejudicada. Todos os voos comerciais no planeta foram cancelados.
Estas três situações descritas acima são possíveis e talvez nem tão improváveis assim. Se muitos creem que os sistemas comerciais, militares e governamentais são extremamente seguros, reconsiderem.
Muito embora todos esses sistemas sejam defendidos pelos profissionais especialistas em segurança da computação mais competentes do mundo, do outro lado há também verdadeiros gênios querendo sobrepujar as defesas computacionais e levar o caos à uma determinada organização, instituição, ou até mesmo, país. Governos como o norte-coreano e grupos terroristas como a Al-Qaeda certamente tem em seus exércitos guerreiros digitais bastante capazes.
Além disso, sempre há o inesperado. A NSA, agência de segurança nacional dos EUA, foi infiltrada, de dentro. Eduard Snowden, analista da referida agência, conseguiu divulgar para o mundo todo o programa americano de espionagem aos próprios aliados, entre eles Alemanha, Inglaterra e Brasil. Ele fez isso usando softwares de baixo custo bastante populares na Internet para acessar os documentos que circulavam na rede interna da agência. Ninguém esperaria que um "traidor" trabalhasse na NSA e por isso não se preocuparam tanto com a eficácia das medidas de prevenção à acessos não autorizados vindos de dentro.
Quem garante então que hackers não possam ser contratados para trabalhar nas empresas ou governos que eles querem destruir? Quem garante que já não haja hackers trabalhando nas bolsas de valores, nas agências espaciais, nos centros militares?
Muito embora computadores, internet e GPS tenham trazido uma verdadeira revolução na maneira como o mundo trabalha, se comunica e se orienta, também aumentou o grau de vulnerabilidade. Há 40 anos, poucas pessoas sentiriam falta de um computador. A internet nem era conhecida. E a navegação se dava por bússolas, mapas, e nos veículos mais avançados, sistemas inerciais e radiofarol. Hoje, sem computadores e internet, não se poderia nem fazer uma compra em um supermercado. Todos os principais sistemas são controlados por computadores e internet. De transações bancárias à geração de energia. Sem GPS, muitos não saberiam se orientar nem nas suas próprias cidades, aviões e navios ficariam sem rumo.
A cada dia em que a tecnologia vai ficando mais complexa, também vai ficando mais vulnerável. Falhas que nem seriam notadas há 20 anos, hoje podem ser catastróficas. E os hackers, governos e grupos terroristas sabem disso.
Portanto, mantenham-se preparados e atentos. Sempre.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Você está preparado para sobreviver?
Quando pensamos em sobrevivencialismo, pensamos em nossas preparações, nossos EDCs, nossos BOBs, nossas rotas de fuga, refúgios, técnicas e tudo o mais.
Agora, imagine que, durante uma viagem, de férias ou à negócios, junto com a sua família, acontece uma crise. Você está longe, talvez a milhares de quilômetros de seu refúgio. Está sem seu EDC, pois a segurança aeroportuária jamais deixaria você embarcar com alguns itens, como canivetes, facas, atiradeiras, agulhas ou quaisquer outros objetos considerados perigosos. Sua BOB ficou em casa, pois não teria como levá-la na viagem.
Vocês estão num hotel, numa cidade desconhecida. Não há energia, não há água. Apesar de suas precauções sobrevivencialistas, a viagem tomou conta de todos os seus pensamentos e você esqueceu de acompanhar os sites de notícias e de monitoramento do planeta. Então, a crise te pegou de calças arriadas, desprevenido como os demais. O frigobar do hotel tem alguns itens alimentares que dão para salvar a pátria por pouco tempo. Então você vai ter que correr até o supermercado mais próximo para comprar algumas coisas essenciais, especialmente mais alimentos para a sua família. Só que todo mundo tem a mesma ideia.
O supermercado está tomado. Tem gente brigando pelas mercadorias. Você teria coragem de roubar algumas barras de chocolate de uma velhinha? Ou tomar um carrinho de compras de um pai com duas crianças pequenas? É a sua sobrevivência e a da sua família que está em jogo.
Com a crise, a situação mudou. A lei que existe não é mais a lei da civilização. Agora é a lei do mais forte. Se você tomar a comida de alguém, vai garantir a sobrevivência de seus filhos. E provavelmente vai ser o responsável por causar grandes dificuldades aqueles de quem você retirou os recursos. Num mundo assim não haverá espaço para a ética, moral, educação, piedade.
Para garantir a sobrevivência de sua família, é possível que você seja obrigado a matar. Homens, mulheres, crianças. Vai encarar? Se você pestanejar, pode ser morto por outros homens, ou mulheres ou crianças. Crianças? Em situações limite, as crianças são extremamente perigosas. Basta ver os bandos de crianças lutando pela sobrevivência em países da África em períodos de fome.
Esta é apenas uma das inúmeras situações que podem ocorrer em tempos de crise. E mesmo com preparação, com recursos, com conhecimento, poderemos ser levados ao limite. Peço que pensem nisso. A gente tende a achar que, por sermos sobervivencialistas, estaremos numa condição melhor que as demais pessoas num evento catastrófico. Mas, sem nossas preparações não ficaremos em situação muito melhor do a maioria das pessoas. Então teremos que tomar medidas extremas...
Será que estaremos mesmo preparados para isso? Para matar? Roubar? Para esquecer todos os anos de civilização de uma hora para outra e agir como animais?
Pensem nisso.
PS - Foi um quadro negro o que pintei, mas em virtude dos últimos acontecimentos nas grandes cidades brasileiras, seria besteira pensar que as pessoas estranhas se ajudariam em uma crise...
Agora, imagine que, durante uma viagem, de férias ou à negócios, junto com a sua família, acontece uma crise. Você está longe, talvez a milhares de quilômetros de seu refúgio. Está sem seu EDC, pois a segurança aeroportuária jamais deixaria você embarcar com alguns itens, como canivetes, facas, atiradeiras, agulhas ou quaisquer outros objetos considerados perigosos. Sua BOB ficou em casa, pois não teria como levá-la na viagem.
Vocês estão num hotel, numa cidade desconhecida. Não há energia, não há água. Apesar de suas precauções sobrevivencialistas, a viagem tomou conta de todos os seus pensamentos e você esqueceu de acompanhar os sites de notícias e de monitoramento do planeta. Então, a crise te pegou de calças arriadas, desprevenido como os demais. O frigobar do hotel tem alguns itens alimentares que dão para salvar a pátria por pouco tempo. Então você vai ter que correr até o supermercado mais próximo para comprar algumas coisas essenciais, especialmente mais alimentos para a sua família. Só que todo mundo tem a mesma ideia.
O supermercado está tomado. Tem gente brigando pelas mercadorias. Você teria coragem de roubar algumas barras de chocolate de uma velhinha? Ou tomar um carrinho de compras de um pai com duas crianças pequenas? É a sua sobrevivência e a da sua família que está em jogo.
Com a crise, a situação mudou. A lei que existe não é mais a lei da civilização. Agora é a lei do mais forte. Se você tomar a comida de alguém, vai garantir a sobrevivência de seus filhos. E provavelmente vai ser o responsável por causar grandes dificuldades aqueles de quem você retirou os recursos. Num mundo assim não haverá espaço para a ética, moral, educação, piedade.
Para garantir a sobrevivência de sua família, é possível que você seja obrigado a matar. Homens, mulheres, crianças. Vai encarar? Se você pestanejar, pode ser morto por outros homens, ou mulheres ou crianças. Crianças? Em situações limite, as crianças são extremamente perigosas. Basta ver os bandos de crianças lutando pela sobrevivência em países da África em períodos de fome.
Esta é apenas uma das inúmeras situações que podem ocorrer em tempos de crise. E mesmo com preparação, com recursos, com conhecimento, poderemos ser levados ao limite. Peço que pensem nisso. A gente tende a achar que, por sermos sobervivencialistas, estaremos numa condição melhor que as demais pessoas num evento catastrófico. Mas, sem nossas preparações não ficaremos em situação muito melhor do a maioria das pessoas. Então teremos que tomar medidas extremas...
Será que estaremos mesmo preparados para isso? Para matar? Roubar? Para esquecer todos os anos de civilização de uma hora para outra e agir como animais?
Pensem nisso.
PS - Foi um quadro negro o que pintei, mas em virtude dos últimos acontecimentos nas grandes cidades brasileiras, seria besteira pensar que as pessoas estranhas se ajudariam em uma crise...
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Contos Sobrevivencialistas - Vírus
Sempre ouvimos falar do perigo representado pelas pandemias. Era consenso entre os cientistas que um possível surto de gripe, causado por um vírus semelhante ao H1N1, responsável pela gripe aviária, tinha grandes possibilidades de começar na Ásia. Ou que vírus causadores de febre hemorrágica, como o Ebola ou o Marburg poderiam se espalhar pelo mundo a partir da África.
Hoje vemos como foi estúpido pensar dessa maneira. Porque ninguém nunca pensou que uma ameaça dessas não poderia se esconder em outros locais que não África ou Ásia? Eu creio que o cinema contribuiu para essa cegueira. Boa parte dos filmes sobre pandemias, ou mostravam que a infestação começou em algum país asiático, ou que até surgiu nos EUA, mas que foi levada para lá por algum individuo ou animal contaminados vindo da África.
Existiam muitas áreas de selva inexploradas pelo mundo, e o avanço da chamada civilização para dentro delas fez com que os cientistas achassem novas espécies de animais e plantas, que continham novas substâncias, responsáveis por uma verdadeira revolução na medicina. Tribos indígenas das quais nunca tinha-se ouvido falar, foram descobertas.
Na época em que o homem europeu chegou às terras das Américas, trouxe consigo vários microrganismos, contra os quais, os habitantes locais não tinham defesa imunológica. O resultado foi a doença e morte em larga escala. Agora, parece que os últimos descendentes desses povos iriam ser responsáveis pela "vingança".
Numa das expedições internacionais na Amazônia Brasileira, mais precisamente no estado do Amazonas, uma equipe de 20 pessoas, entre antropólogos, biólogos, fotógrafos e auxiliares, encontrou uma tribo ainda não catalogada. Após um ou dois dias de tentativas, os indígenas permitiram a aproximação dos integrantes da expedição. Como é de praxe,os dois lados ficaram encantados. Tanto os integrantes da expedição, por encontrar uma tribo intocada, como a própria tribo, por ver pessoas tão estranhas cheias de "objetos mágicos". Após mais alguns dias, a expedição estava de volta ao ponto de origem, Manaus, para organizar todo o material recolhido. Alguns integrantes foram embora de Manaus, para as suas cidades de origem, tanto no Brasil como em outros países Foi então que um dos participantes da viagem ficou gripado. Mal havia chegado à cidade e este começou a ter os sintomas de uma gripe comum. Ele era um dos auxiliares, que morava numa das áreas mais pobres da capital amazonense. Depois de algumas horas, o que eram só espirros e boca seca, evoluiu para uma febre altíssima, vômito e diarreia, além de dificuldade para respirar. Sua esposa e filhos o levaram para um hospital público. O estado do hospital era precário, com gente em macas espalhadas pelos corredores. O médico o examinou, depois de várias horas de espera, disse que era cólera, receitou a ingestão de líquidos e foi embora. Logo, o indivíduo começou a ter convulsões, pois a febre era tão alta que começou a desnaturar as proteínas cerebrais. Os enfermeiros demoraram a aparecer, pois muitos eram os pacientes que precisavam de atenção naquele caos. Quando finalmente chegaram, ele estava morto. A esposa e os filhos voltaram, desolados, para casa. Três dias depois tanto a mulher quanto as crianças começaram a ter os mesmos sintomas de gripe. Eles procuraram o hospital, e novamente tiveram que esperar muito por atendimento, pois, dessa vez, além do caos habitual, haviam muitas pessoas gripadas.
Enquanto isso, os demais integrantes da expedição, em Manaus, e em outras cidades brasileiras e de outros países, começaram a gripar. Assim como na gripe comum, os espirros espalhavam os vírus pelo ar, e também por superfícies contaminadas, fluidos corporais, fezes e urina, contaminando outras pessoas. Metrô, trens, taxis, aviões, carros, salas, e outros ambientes confinados aceleravam a disseminação.
Um dos órgãos da imprensa amazonense que estava fazendo mais uma reportagem sobre as péssimas condições dos hospitais públicos descobre que existe muitos casos de uma gripe muito forte, inclusive entre membros da equipe médica e que esta gripe tem sido responsável por muitas mortes. O que inicialmente foi atribuído às condições hospitalares degradantes, rapidamente foi posto de lado quando em hospitais particulares em boas condições as pessoas também estavam gripando, e boa parte delas morrendo, pois outros integrantes da expedição deram entrada nestes locais. No dia seguinte, jornais e programas de tv da cidade divulgaram que um surto de gripe estava atacando a cidade, e que sua origem era desconhecida. Logo o fato virou manchete em rede nacional. Vários especialistas em transmissão de doenças foram consultados e a maioria dizia que os casos em Manaus eram misteriosos, mas que não geravam grandes preocupações por enquanto. Imediatamente, os órgãos de saúde recolheram amostras das vítimas para fazer a identificação do microrganismo que estava causando a doença.
Enquanto isso, em outras cidades brasileiras de também de outros países, as primeiras mortes começaram a acontecer, e virar manchete nos noticiários. Isso despertou a atenção de órgãos como o CDC (Center of Disease Control, ou Centro de Controle de Doenças, dos EUA) e da OMS (Organização Mundial de Saúde).
À medida em que os dias iam passando, novos casos da gripe apareceram em muitas outras cidades, e a aumentar nas cidades já contaminadas. Após 15 dias do início da gripe, o número de casos no mundo já tinham passado dos 200 mil, e a taxa de mortalidade era de 50%, mas entre as crianças, pessoas com outros problemas e saúde e idosos, passava dos 80%. Descobriu-se que a gripe era causada por uma variante desconhecida do vírus da gripe, semelhante à H2N2. Após mais investigações, chegou-se a conclusão de que o vírus era de origem animal, mas tinha feito o "salto" para a espécie humana há muito tempo. Isto significava que havia um grupo humano que já convivia com o vírus e já tinha se adaptado à ele. Alguns cientistas sugeriram que este poderia vir de grupos humanos isolados, como tribos amazônicas não descobertas. Logo, descobriu-se que o surto começou com membros de uma expedição à Amazônia Brasileira que tinha descoberto uma tribo isolada. A doença recebeu então o nome de Febre Amazônica.
Mais e mais pessoas foram adoecendo, e nas cidades onde o surto de gripe havia se originado, os hospitais não tinham mais condições de atender ninguém. Já eram tantos infectados que era impossível fazer uma quarentena. E o que dificultava ainda mais a ação das autoridades sanitárias era que o período de incubação do vírus era longo o suficiente para que as pessoas contaminadas, mas sem sintomas, pudesse alcançar qualquer lugar do planeta.
Depois de um mês, muitas cidades decretaram estado de calamidade, pois, a quantidade de doentes era tão grande que os serviços essenciais começaram a falhar. E uma onda de pânico tomou conta da população. Muitos, com medo da doença, fugiam das cidades infectadas. Embora as forças armadas fossem mandadas a esses locais, os soldados se recusavam a ir, por medo de contaminação. A cada dia, milhares morriam e novas cidades entravam na lista dos locais contaminados.
Antes da pandemia de Febre Amazônica começar, eu e meu núcleo sobrevivencialista conversávamos muito sobre este tema, e no que faríamos se tal coisa realmente acontecesse. Juntamos nossas economias e compramos uma propriedade que ninguém queria, devido à sua localização, no semi-árido nordestino, sem nenhuma fonte de água próxima, sem solo adequado à agricultura e pela distância das cidades mais próximas. A propriedade era cercada, tinha cerca de 5 mil metros quadrados e o relevo era praticamente plano. Tinha também, duas casas, em razoável estado de conservação internamente, mas bem arruinadas do lado de fora, e um galpão, também arruinado. Para se chegar, enfrentava-se uma trilha de uns 5km por dentro da caatinga. A trilha começava numa estrada asfaltada, mas com pouco movimento Fomos, ao longo dos meses, instalando tudo o que precisávamos para viver lá. Cisternas para captação de água das chuvas, sistemas de geração de energia elétrica baseados em energia solar e eólica. Além disso, criamos áreas para a criação de animais. Cabras, coelhos, galinhas e codornas foram as nossas escolhas. Como o solo era realmente muito ruim para plantação, resolvemos preparar uma área e trazer solo fértil de outro local, e usar sistemas de irrigação por gotejamento, além de plantar culturas que exigissem pouca água. Numa das casas, criamos uma despensa e entupimos com toda a sorte de alimentos não perecíveis, além de suprimentos médicos, fontes de iluminação e algumas armas, com bastante munição. Investimos em um sistema de internet via satélite que, embora lento e caro, nos permite a privacidade desejada. Instalamos também um sistema de comunicação via rádio, até porque na região não havia sinal de nenhuma das operadoras de celular disponíveis Todos os nossos esforços foram feitos sem contratar praticamente ninguém que não pertencesse ao grupo. Eu e outros membros resolvemos ficar por lá de vez, pois nossos trabalhos poderiam ser feitos via internet. Outros, precisavam ficar na cidade, mas combinamos que, em qualquer mínimo sinal de crise, todos deveriam imediatamente ir para o, digamos, refúgio, levando o mínimo de coisas, pois tudo o que precisávamos para viver já estava estocado lá.
Assim, quando a imprensa noticiou os primeiros casos da Febre Amazônica, resolvemos que todos viriam para o refúgio e ficaríamos juntos por algum tempo para ver como a situação evoluiria. Foi a decisão mais correta, pois, com o passar do tempo, as grandes e pequenas cidades ficaram contaminadas, a infra-estrutura entrou em colapso, o pânico e a violência se alastraram. Posso resumir a sequência de acontecimentos da seguinte maneira:
Nas primeiras semanas, tudo estava quase normal, a não ser que o principal assunto dos noticiários era a Febre e os esforços dos governos mundiais para evitar mais casos, e também para desenvolver algum tipo de vacina.Mas, com o passar das semanas, uma a uma, as grandes capitais brasileiras foram se desintegrando. À medida em que a doença avançava, os serviços como energia elétrica, água, comunicações e outros iam parando. As mortes eram de milhares por dia, por causa do vírus e também por conta da violência, pânico, fome, acidentes. Logo, as redes nacionais de televisão saíram do ar. As rádios resistiram um pouco mais, mas rapidamente foram silenciando. As das cidades mais próximas a nós, silenciaram todas de uma vez, possivelmente por falta de energia. A nossa internet via satélite logo parou de funcionar, provavelmente por falta de gente ou energia. Mas, mesmo antes disso, muitos sites já se tornavam inacessíveis. Não sabíamos o que estava acontecendo fora do Brasil. As últimas notícias indicavam que o vírus também tinha atingido algumas das principais cidades. Nosso único método de comunicação se tornou o rádio. Devido ao método que escolhemos para gerar nossa energia, e pela nossa opção de ficarmos desconectados do sistema, podíamos nos dar ao luxo de ligá-lo durante algumas horas por dia. Conseguimos contatos esporádicos com pessoas no Brasil e em outros países. Uma das pessoas com quem falamos era do interior de São Paulo e, como nós, ele e seu grupo se isolaram em um refúgio aos primeiros sinais da crise. Falou que mesmo nas pequenas cidades, o caos imperava, e que não havia energia. Mas que não sabia de muito mais sobre o que estava acontecendo. Conseguimos contato também com pessoas do Japão, do Irã e dos EUA, mas por poucos minutos. Nesses países, também o caos imperava. Passados mais alguns dias, não conseguimos mais contato com ninguém.
Estávamos bem estruturados, mas tínhamos um problema muito sério, que era a aflição das pessoas para saber o estado de seus entes queridos. Tios, sobrinhos, irmãos, pais, filhos, amigos. Todos eram fonte constante de preocupação. O desejo de saber se eles tinham sobrevivido era muito intenso. Convidamos-os a seguir nossa filosofia de vida. Mas fomos chamados de loucos, paranoicos, pessimistas. Fomos desprezados e ridicularizados. Falei para todos que eles tinham feito a escolha deles, e que era perigoso sair do refúgio, por não sabermos como estavam as cidades e pela possibilidade de revelar o local onde estávamos instalados. No fim, a lógica falou mais alto, especialmente quando me referi aos filhos de cada um dos membros do grupo e o risco que eles poderiam correr. Falei também que, futuramente poderíamos mandar alguém para investigar a situação das cidades, muito embora eu achasse que tal investigação poderia ser perigosa caso alguém contaminado fosse encontrado. Tomamos também outras medidas. Embora estivéssemos bem isolados, cobríamos as janelas à noite para evitar que as luzes atraíssem a atenção de alguém que porventura tivesse passando pela estrada. As chances eram mínimas, mas nunca se sabe. Todas as atividades que produziam barulho eram feitas, na medida do possível, dentro das casas. Mantivemos o exterior das casas com a aparência original, ou seja, arruinado, e, quando nós nos instalamos, no começo da crise, escondemos da melhor maneira possível, a trilha que sai da estrada até o refúgio. Durante todo o dia, sempre alguém caminhava pelo enorme terreno da propriedade, atrás de algum sinal suspeito. Como já disse, as chances eram mínimas de alguém descobrir o nosso refúgio. Mas não queríamos facilitar. Os carros que usamos para chegar ao refúgio estavam escondidos no galpão. Havia também vários galões de álcool, para servir de combustível para os carros. Embora a gasolina apresente maior rendimento, o álcool demora muito mais a degradar. Isso pode garantir a nossa mobilidade por um período bem mais longo, embora soubéssemos que, eventualmente, os carros teriam que ser abandonados, pois além da deterioração do combustível, faltariam peças de reposição. Para isso, tínhamos algumas bicicletas.
Apesar de termos nos preparado, em termos de estrutura física, víveres, alimentação, remédios e outras necessidades, nada tinha nos preparado para a sensação de isolamento total. Acreditávamos que a sociedade um dia iria entrar em colapso, como entrou, e que simplesmente sobreviveríamos e tocaríamos nossa vida em nosso refúgio. Mas, como o velho ditado diz, só vemos que as pequenas coisas do dia-a-dia são importantes quando não podemos mais tê-las. Ver um jogo de futebol, uma corrida de Fórmula 1, um programa sobrevivencialista em algum canal por assinatura, ouvir alguma música, viajar, pagar contas, trabalhar, tudo isso tinha desaparecido junto com a sociedade.
Depois de seis meses do início da pandemia mortal que assolou o planeta, e sem contato com ninguém, resolvemos ir até as cidades mais próximas para ver como estava a situação. Imaginamos que a Febre Amazônica já deveria ter se extinguido, e que os sobreviventes, caso encontrássemos algum, já deveriam estar livres do vírus há muito tempo. Fomos eu e mais quatro integrantes do grupo. Saímos com um dos carros, chegamos á estrada. Nenhum movimento. Rodamos cerca de 200km. Todas as cidadezinhas por que passamos estavam abandonadas, destruídas. Mas, quando nos preparávamos para voltar, vimos uma família. Um homem, uma mulher e duas crianças. Paramos, como as armas que tínhamos levado ao alcance da mão. Começamos a conversar e eles nos disseram que eram os únicos sobreviventes naquela região. Eles tinham saído de João Pessoa, de carro, fugindo de assaltantes e do pânico. Tinham chegado à cidade onde se encontravam e lá permanecido pelos últimos cinco meses e meio. Estavam todos magros, sujos. Estavam comendo alimentos que tinham encontrado num supermercado da cidade, mas que tudo já estava acabando. Disseram que já encontraram a cidade sem pessoas vivas. Quando perguntei se eles haviam contraído a doença, eles disseram que não, que apenas haviam ficado gripados, mas uma gripe comum. Como levamos alguns mantimentos, para o caso de nossa jornada durar mais do que o previsto, resolvemos deixar alguma coisa com eles e ir embora. Não falamos nada sobre nosso refúgio, pois não sabíamos ao certo o que esperar. Voltamos no fim do dia e contamos a novidade aos outros. Ficamos discutindo sobre o que deveríamos fazer. Eu fui contra levá-los para nosso refúgio, pois não os conhecia, não confiava neles. Discutimos durante dois dias, até que resolvemos fazer uma votação. No momento em que eu ia proferir o meu voto, espirrei... E me veio a mente o que eles disseram:
- Não contraímos a doença. Apenas uma gripe comum...
Hoje vemos como foi estúpido pensar dessa maneira. Porque ninguém nunca pensou que uma ameaça dessas não poderia se esconder em outros locais que não África ou Ásia? Eu creio que o cinema contribuiu para essa cegueira. Boa parte dos filmes sobre pandemias, ou mostravam que a infestação começou em algum país asiático, ou que até surgiu nos EUA, mas que foi levada para lá por algum individuo ou animal contaminados vindo da África.
Existiam muitas áreas de selva inexploradas pelo mundo, e o avanço da chamada civilização para dentro delas fez com que os cientistas achassem novas espécies de animais e plantas, que continham novas substâncias, responsáveis por uma verdadeira revolução na medicina. Tribos indígenas das quais nunca tinha-se ouvido falar, foram descobertas.
Na época em que o homem europeu chegou às terras das Américas, trouxe consigo vários microrganismos, contra os quais, os habitantes locais não tinham defesa imunológica. O resultado foi a doença e morte em larga escala. Agora, parece que os últimos descendentes desses povos iriam ser responsáveis pela "vingança".
Numa das expedições internacionais na Amazônia Brasileira, mais precisamente no estado do Amazonas, uma equipe de 20 pessoas, entre antropólogos, biólogos, fotógrafos e auxiliares, encontrou uma tribo ainda não catalogada. Após um ou dois dias de tentativas, os indígenas permitiram a aproximação dos integrantes da expedição. Como é de praxe,os dois lados ficaram encantados. Tanto os integrantes da expedição, por encontrar uma tribo intocada, como a própria tribo, por ver pessoas tão estranhas cheias de "objetos mágicos". Após mais alguns dias, a expedição estava de volta ao ponto de origem, Manaus, para organizar todo o material recolhido. Alguns integrantes foram embora de Manaus, para as suas cidades de origem, tanto no Brasil como em outros países Foi então que um dos participantes da viagem ficou gripado. Mal havia chegado à cidade e este começou a ter os sintomas de uma gripe comum. Ele era um dos auxiliares, que morava numa das áreas mais pobres da capital amazonense. Depois de algumas horas, o que eram só espirros e boca seca, evoluiu para uma febre altíssima, vômito e diarreia, além de dificuldade para respirar. Sua esposa e filhos o levaram para um hospital público. O estado do hospital era precário, com gente em macas espalhadas pelos corredores. O médico o examinou, depois de várias horas de espera, disse que era cólera, receitou a ingestão de líquidos e foi embora. Logo, o indivíduo começou a ter convulsões, pois a febre era tão alta que começou a desnaturar as proteínas cerebrais. Os enfermeiros demoraram a aparecer, pois muitos eram os pacientes que precisavam de atenção naquele caos. Quando finalmente chegaram, ele estava morto. A esposa e os filhos voltaram, desolados, para casa. Três dias depois tanto a mulher quanto as crianças começaram a ter os mesmos sintomas de gripe. Eles procuraram o hospital, e novamente tiveram que esperar muito por atendimento, pois, dessa vez, além do caos habitual, haviam muitas pessoas gripadas.
Enquanto isso, os demais integrantes da expedição, em Manaus, e em outras cidades brasileiras e de outros países, começaram a gripar. Assim como na gripe comum, os espirros espalhavam os vírus pelo ar, e também por superfícies contaminadas, fluidos corporais, fezes e urina, contaminando outras pessoas. Metrô, trens, taxis, aviões, carros, salas, e outros ambientes confinados aceleravam a disseminação.
Um dos órgãos da imprensa amazonense que estava fazendo mais uma reportagem sobre as péssimas condições dos hospitais públicos descobre que existe muitos casos de uma gripe muito forte, inclusive entre membros da equipe médica e que esta gripe tem sido responsável por muitas mortes. O que inicialmente foi atribuído às condições hospitalares degradantes, rapidamente foi posto de lado quando em hospitais particulares em boas condições as pessoas também estavam gripando, e boa parte delas morrendo, pois outros integrantes da expedição deram entrada nestes locais. No dia seguinte, jornais e programas de tv da cidade divulgaram que um surto de gripe estava atacando a cidade, e que sua origem era desconhecida. Logo o fato virou manchete em rede nacional. Vários especialistas em transmissão de doenças foram consultados e a maioria dizia que os casos em Manaus eram misteriosos, mas que não geravam grandes preocupações por enquanto. Imediatamente, os órgãos de saúde recolheram amostras das vítimas para fazer a identificação do microrganismo que estava causando a doença.
Enquanto isso, em outras cidades brasileiras de também de outros países, as primeiras mortes começaram a acontecer, e virar manchete nos noticiários. Isso despertou a atenção de órgãos como o CDC (Center of Disease Control, ou Centro de Controle de Doenças, dos EUA) e da OMS (Organização Mundial de Saúde).
À medida em que os dias iam passando, novos casos da gripe apareceram em muitas outras cidades, e a aumentar nas cidades já contaminadas. Após 15 dias do início da gripe, o número de casos no mundo já tinham passado dos 200 mil, e a taxa de mortalidade era de 50%, mas entre as crianças, pessoas com outros problemas e saúde e idosos, passava dos 80%. Descobriu-se que a gripe era causada por uma variante desconhecida do vírus da gripe, semelhante à H2N2. Após mais investigações, chegou-se a conclusão de que o vírus era de origem animal, mas tinha feito o "salto" para a espécie humana há muito tempo. Isto significava que havia um grupo humano que já convivia com o vírus e já tinha se adaptado à ele. Alguns cientistas sugeriram que este poderia vir de grupos humanos isolados, como tribos amazônicas não descobertas. Logo, descobriu-se que o surto começou com membros de uma expedição à Amazônia Brasileira que tinha descoberto uma tribo isolada. A doença recebeu então o nome de Febre Amazônica.
Mais e mais pessoas foram adoecendo, e nas cidades onde o surto de gripe havia se originado, os hospitais não tinham mais condições de atender ninguém. Já eram tantos infectados que era impossível fazer uma quarentena. E o que dificultava ainda mais a ação das autoridades sanitárias era que o período de incubação do vírus era longo o suficiente para que as pessoas contaminadas, mas sem sintomas, pudesse alcançar qualquer lugar do planeta.
Depois de um mês, muitas cidades decretaram estado de calamidade, pois, a quantidade de doentes era tão grande que os serviços essenciais começaram a falhar. E uma onda de pânico tomou conta da população. Muitos, com medo da doença, fugiam das cidades infectadas. Embora as forças armadas fossem mandadas a esses locais, os soldados se recusavam a ir, por medo de contaminação. A cada dia, milhares morriam e novas cidades entravam na lista dos locais contaminados.
Antes da pandemia de Febre Amazônica começar, eu e meu núcleo sobrevivencialista conversávamos muito sobre este tema, e no que faríamos se tal coisa realmente acontecesse. Juntamos nossas economias e compramos uma propriedade que ninguém queria, devido à sua localização, no semi-árido nordestino, sem nenhuma fonte de água próxima, sem solo adequado à agricultura e pela distância das cidades mais próximas. A propriedade era cercada, tinha cerca de 5 mil metros quadrados e o relevo era praticamente plano. Tinha também, duas casas, em razoável estado de conservação internamente, mas bem arruinadas do lado de fora, e um galpão, também arruinado. Para se chegar, enfrentava-se uma trilha de uns 5km por dentro da caatinga. A trilha começava numa estrada asfaltada, mas com pouco movimento Fomos, ao longo dos meses, instalando tudo o que precisávamos para viver lá. Cisternas para captação de água das chuvas, sistemas de geração de energia elétrica baseados em energia solar e eólica. Além disso, criamos áreas para a criação de animais. Cabras, coelhos, galinhas e codornas foram as nossas escolhas. Como o solo era realmente muito ruim para plantação, resolvemos preparar uma área e trazer solo fértil de outro local, e usar sistemas de irrigação por gotejamento, além de plantar culturas que exigissem pouca água. Numa das casas, criamos uma despensa e entupimos com toda a sorte de alimentos não perecíveis, além de suprimentos médicos, fontes de iluminação e algumas armas, com bastante munição. Investimos em um sistema de internet via satélite que, embora lento e caro, nos permite a privacidade desejada. Instalamos também um sistema de comunicação via rádio, até porque na região não havia sinal de nenhuma das operadoras de celular disponíveis Todos os nossos esforços foram feitos sem contratar praticamente ninguém que não pertencesse ao grupo. Eu e outros membros resolvemos ficar por lá de vez, pois nossos trabalhos poderiam ser feitos via internet. Outros, precisavam ficar na cidade, mas combinamos que, em qualquer mínimo sinal de crise, todos deveriam imediatamente ir para o, digamos, refúgio, levando o mínimo de coisas, pois tudo o que precisávamos para viver já estava estocado lá.
Assim, quando a imprensa noticiou os primeiros casos da Febre Amazônica, resolvemos que todos viriam para o refúgio e ficaríamos juntos por algum tempo para ver como a situação evoluiria. Foi a decisão mais correta, pois, com o passar do tempo, as grandes e pequenas cidades ficaram contaminadas, a infra-estrutura entrou em colapso, o pânico e a violência se alastraram. Posso resumir a sequência de acontecimentos da seguinte maneira:
Nas primeiras semanas, tudo estava quase normal, a não ser que o principal assunto dos noticiários era a Febre e os esforços dos governos mundiais para evitar mais casos, e também para desenvolver algum tipo de vacina.Mas, com o passar das semanas, uma a uma, as grandes capitais brasileiras foram se desintegrando. À medida em que a doença avançava, os serviços como energia elétrica, água, comunicações e outros iam parando. As mortes eram de milhares por dia, por causa do vírus e também por conta da violência, pânico, fome, acidentes. Logo, as redes nacionais de televisão saíram do ar. As rádios resistiram um pouco mais, mas rapidamente foram silenciando. As das cidades mais próximas a nós, silenciaram todas de uma vez, possivelmente por falta de energia. A nossa internet via satélite logo parou de funcionar, provavelmente por falta de gente ou energia. Mas, mesmo antes disso, muitos sites já se tornavam inacessíveis. Não sabíamos o que estava acontecendo fora do Brasil. As últimas notícias indicavam que o vírus também tinha atingido algumas das principais cidades. Nosso único método de comunicação se tornou o rádio. Devido ao método que escolhemos para gerar nossa energia, e pela nossa opção de ficarmos desconectados do sistema, podíamos nos dar ao luxo de ligá-lo durante algumas horas por dia. Conseguimos contatos esporádicos com pessoas no Brasil e em outros países. Uma das pessoas com quem falamos era do interior de São Paulo e, como nós, ele e seu grupo se isolaram em um refúgio aos primeiros sinais da crise. Falou que mesmo nas pequenas cidades, o caos imperava, e que não havia energia. Mas que não sabia de muito mais sobre o que estava acontecendo. Conseguimos contato também com pessoas do Japão, do Irã e dos EUA, mas por poucos minutos. Nesses países, também o caos imperava. Passados mais alguns dias, não conseguimos mais contato com ninguém.
Estávamos bem estruturados, mas tínhamos um problema muito sério, que era a aflição das pessoas para saber o estado de seus entes queridos. Tios, sobrinhos, irmãos, pais, filhos, amigos. Todos eram fonte constante de preocupação. O desejo de saber se eles tinham sobrevivido era muito intenso. Convidamos-os a seguir nossa filosofia de vida. Mas fomos chamados de loucos, paranoicos, pessimistas. Fomos desprezados e ridicularizados. Falei para todos que eles tinham feito a escolha deles, e que era perigoso sair do refúgio, por não sabermos como estavam as cidades e pela possibilidade de revelar o local onde estávamos instalados. No fim, a lógica falou mais alto, especialmente quando me referi aos filhos de cada um dos membros do grupo e o risco que eles poderiam correr. Falei também que, futuramente poderíamos mandar alguém para investigar a situação das cidades, muito embora eu achasse que tal investigação poderia ser perigosa caso alguém contaminado fosse encontrado. Tomamos também outras medidas. Embora estivéssemos bem isolados, cobríamos as janelas à noite para evitar que as luzes atraíssem a atenção de alguém que porventura tivesse passando pela estrada. As chances eram mínimas, mas nunca se sabe. Todas as atividades que produziam barulho eram feitas, na medida do possível, dentro das casas. Mantivemos o exterior das casas com a aparência original, ou seja, arruinado, e, quando nós nos instalamos, no começo da crise, escondemos da melhor maneira possível, a trilha que sai da estrada até o refúgio. Durante todo o dia, sempre alguém caminhava pelo enorme terreno da propriedade, atrás de algum sinal suspeito. Como já disse, as chances eram mínimas de alguém descobrir o nosso refúgio. Mas não queríamos facilitar. Os carros que usamos para chegar ao refúgio estavam escondidos no galpão. Havia também vários galões de álcool, para servir de combustível para os carros. Embora a gasolina apresente maior rendimento, o álcool demora muito mais a degradar. Isso pode garantir a nossa mobilidade por um período bem mais longo, embora soubéssemos que, eventualmente, os carros teriam que ser abandonados, pois além da deterioração do combustível, faltariam peças de reposição. Para isso, tínhamos algumas bicicletas.
Apesar de termos nos preparado, em termos de estrutura física, víveres, alimentação, remédios e outras necessidades, nada tinha nos preparado para a sensação de isolamento total. Acreditávamos que a sociedade um dia iria entrar em colapso, como entrou, e que simplesmente sobreviveríamos e tocaríamos nossa vida em nosso refúgio. Mas, como o velho ditado diz, só vemos que as pequenas coisas do dia-a-dia são importantes quando não podemos mais tê-las. Ver um jogo de futebol, uma corrida de Fórmula 1, um programa sobrevivencialista em algum canal por assinatura, ouvir alguma música, viajar, pagar contas, trabalhar, tudo isso tinha desaparecido junto com a sociedade.
Depois de seis meses do início da pandemia mortal que assolou o planeta, e sem contato com ninguém, resolvemos ir até as cidades mais próximas para ver como estava a situação. Imaginamos que a Febre Amazônica já deveria ter se extinguido, e que os sobreviventes, caso encontrássemos algum, já deveriam estar livres do vírus há muito tempo. Fomos eu e mais quatro integrantes do grupo. Saímos com um dos carros, chegamos á estrada. Nenhum movimento. Rodamos cerca de 200km. Todas as cidadezinhas por que passamos estavam abandonadas, destruídas. Mas, quando nos preparávamos para voltar, vimos uma família. Um homem, uma mulher e duas crianças. Paramos, como as armas que tínhamos levado ao alcance da mão. Começamos a conversar e eles nos disseram que eram os únicos sobreviventes naquela região. Eles tinham saído de João Pessoa, de carro, fugindo de assaltantes e do pânico. Tinham chegado à cidade onde se encontravam e lá permanecido pelos últimos cinco meses e meio. Estavam todos magros, sujos. Estavam comendo alimentos que tinham encontrado num supermercado da cidade, mas que tudo já estava acabando. Disseram que já encontraram a cidade sem pessoas vivas. Quando perguntei se eles haviam contraído a doença, eles disseram que não, que apenas haviam ficado gripados, mas uma gripe comum. Como levamos alguns mantimentos, para o caso de nossa jornada durar mais do que o previsto, resolvemos deixar alguma coisa com eles e ir embora. Não falamos nada sobre nosso refúgio, pois não sabíamos ao certo o que esperar. Voltamos no fim do dia e contamos a novidade aos outros. Ficamos discutindo sobre o que deveríamos fazer. Eu fui contra levá-los para nosso refúgio, pois não os conhecia, não confiava neles. Discutimos durante dois dias, até que resolvemos fazer uma votação. No momento em que eu ia proferir o meu voto, espirrei... E me veio a mente o que eles disseram:
- Não contraímos a doença. Apenas uma gripe comum...
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Caos no Rio
Morei na Cidade Maravilhosa durante sete anos. Salvo um incidente na Linha Amarela, em que o ônibus em que eu estava ficou no meio de um tiroteio entre policiais e traficantes, e que graças a Deus não aconteceu nada com ninguém, nem dentro e nem fora, nunca tive maiores problemas lá. Meu segundo trabalho é fotografia e lá, eu, minha esposa e meu filho saíamos praticamente todo final de semana para registrar os pontos turísticos e também o cotidiano de uma das cidades mais bonitas do Brasil e do mundo.
Apesar de minhas ressalvas com o prefeito e com o governador, respectivamente Paes e Cabral, estava sentindo que, pelo menos no quesito segurança, as coisas estavam melhorando. Mas, um pouco antes de vir embora, senti que a cidade estava voltando a ficar perigosa. Nós, que andamos pelas ruas diariamente, temos aquele sentimento, quase como se fosse um sexto sentido, de que tinha alguma coisa errada. E as notícias nos jornais e relatos de amigos comprovaram esse sentimento. Muitos foram assaltados, em pontos de ônibus e em seus carros. Até a irmã de um amigo foi espancada, ao ter a sua bicicleta roubada. Prédios no bairro em que eu morava, Botafogo, foram invadidos por ladrões, que, de apartamento em apartamento, fizeram um verdadeiro arrastão.
Ao voltar, continuei a acompanhar as notícias da cidade que considero a minha segunda casa, além de sempre manter contato com os muitos amigos que fiz. É desalentador. O número de assaltos aumentou muito, muito mais do que dizem as estimativas oficiais, pois muitas pessoas não vão prestar queixa. As UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) instaladas nas principais favelas da cidade, para coibir a ação de traficantes, estão perdendo o controle. Ontem mesmo, uma delas, no Complexo do Alemão, sofreu um atentado. Um homem atirou um coquetel Molotov que, por sorte, não chegou a atingir o prédio. De Novembro de 2013 até agora, as favelas que tem UPPs sofreram com trocas de tiros, tanto entre polícia e traficantes, como entre facções de traficantes na disputa por pontos de vendas de drogas, que continuaram a funcionar, mesmo com o aumento de policiamento.
Não há mais tranquilidade nem mesmo nos pontos turísticos da cidade. No Aterro do Flamengo, ciclistas são assaltados diariamente. Na Floresta da Tijuca, um casal português foi atingido por tiros, numa falsa blitz feita por assaltantes. Em Copacabana, Ipanema e Leblon, os assaltos, roubos e furtos voltaram a ser comuns. Até mesmo cenas que pareciam pertencer ao passado, como os arrastões na praia e os "surfistas de ônibus" voltaram a aparecer.
Chegou-se ao cúmulo de, num assalto, a vítima foi espancada, deixada sem roupas e acorrentada à um poste, além de ter a sua moto levada.
Nem vou falar aqui dos problemas de transporte, da falta de água e energia em vários bairros da cidade, dos protestos anti-Copa, das desapropriações à força das favelas próximas ao Maracanã e das casas no Horto, do preço absurdo dos aluguéis, imóveis e bens de consumo. Isso sem falar no fato de que este é o verão mais quente e seco, não só no Rio, mas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, em muito tempo.
Mas, qual a relação disso com o sobrevivencialismo?
O que está acontecendo no Rio (e não só na segurança, mas também na infra-estrutura e na saúde) mostra a desintegração que está atingindo a sociedade como um todo. É cada vez mais difícil combater o crime. As forças de segurança não conseguem mais coibir a atividade criminosa, o tráfico de drogas, os assaltos, os sequestros, os assassinatos. Os tumultos e arrastões são como um ensaio do que pode acontecer quando o sistema desintegrar de vez.
Bati, bato e vou bater sempre nessa mesma tecla. Temos que nos manter preparados. Embora não seja possível para muitos, viver longe dos grandes centros faz com que as suas chances de sobrevivência sejam muito maiores. Pode parecer fatalista, catastrofista demais, mas a verdade é que a situação é muito mais séria do que a mídia diz que é. Tentam nos convencer de que um reservatório com 20% de sua capacidade é capaz de garantir o abastecimento de uma cidade na época em que se gasta mais água no ano. E que a geração de energia não será afetada, mesmo quando nas hidrelétricas os reservatórios estão secando. Podemos estar à beira de um grande apagão, ou de uma crise hídrica. Mas, em ano de Copa no Brasil, parece não haver interesse em discutir esses problemas. E todos nós poderemos ser pegos de surpresa. Por isso, volto à repetir, preparem-se!
Apesar de minhas ressalvas com o prefeito e com o governador, respectivamente Paes e Cabral, estava sentindo que, pelo menos no quesito segurança, as coisas estavam melhorando. Mas, um pouco antes de vir embora, senti que a cidade estava voltando a ficar perigosa. Nós, que andamos pelas ruas diariamente, temos aquele sentimento, quase como se fosse um sexto sentido, de que tinha alguma coisa errada. E as notícias nos jornais e relatos de amigos comprovaram esse sentimento. Muitos foram assaltados, em pontos de ônibus e em seus carros. Até a irmã de um amigo foi espancada, ao ter a sua bicicleta roubada. Prédios no bairro em que eu morava, Botafogo, foram invadidos por ladrões, que, de apartamento em apartamento, fizeram um verdadeiro arrastão.
Enseada de Botafogo - Rio de Janeiro Foto: Carlos Silva |
Ao voltar, continuei a acompanhar as notícias da cidade que considero a minha segunda casa, além de sempre manter contato com os muitos amigos que fiz. É desalentador. O número de assaltos aumentou muito, muito mais do que dizem as estimativas oficiais, pois muitas pessoas não vão prestar queixa. As UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) instaladas nas principais favelas da cidade, para coibir a ação de traficantes, estão perdendo o controle. Ontem mesmo, uma delas, no Complexo do Alemão, sofreu um atentado. Um homem atirou um coquetel Molotov que, por sorte, não chegou a atingir o prédio. De Novembro de 2013 até agora, as favelas que tem UPPs sofreram com trocas de tiros, tanto entre polícia e traficantes, como entre facções de traficantes na disputa por pontos de vendas de drogas, que continuaram a funcionar, mesmo com o aumento de policiamento.
Não há mais tranquilidade nem mesmo nos pontos turísticos da cidade. No Aterro do Flamengo, ciclistas são assaltados diariamente. Na Floresta da Tijuca, um casal português foi atingido por tiros, numa falsa blitz feita por assaltantes. Em Copacabana, Ipanema e Leblon, os assaltos, roubos e furtos voltaram a ser comuns. Até mesmo cenas que pareciam pertencer ao passado, como os arrastões na praia e os "surfistas de ônibus" voltaram a aparecer.
Chegou-se ao cúmulo de, num assalto, a vítima foi espancada, deixada sem roupas e acorrentada à um poste, além de ter a sua moto levada.
Nem vou falar aqui dos problemas de transporte, da falta de água e energia em vários bairros da cidade, dos protestos anti-Copa, das desapropriações à força das favelas próximas ao Maracanã e das casas no Horto, do preço absurdo dos aluguéis, imóveis e bens de consumo. Isso sem falar no fato de que este é o verão mais quente e seco, não só no Rio, mas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, em muito tempo.
Mas, qual a relação disso com o sobrevivencialismo?
O que está acontecendo no Rio (e não só na segurança, mas também na infra-estrutura e na saúde) mostra a desintegração que está atingindo a sociedade como um todo. É cada vez mais difícil combater o crime. As forças de segurança não conseguem mais coibir a atividade criminosa, o tráfico de drogas, os assaltos, os sequestros, os assassinatos. Os tumultos e arrastões são como um ensaio do que pode acontecer quando o sistema desintegrar de vez.
Bati, bato e vou bater sempre nessa mesma tecla. Temos que nos manter preparados. Embora não seja possível para muitos, viver longe dos grandes centros faz com que as suas chances de sobrevivência sejam muito maiores. Pode parecer fatalista, catastrofista demais, mas a verdade é que a situação é muito mais séria do que a mídia diz que é. Tentam nos convencer de que um reservatório com 20% de sua capacidade é capaz de garantir o abastecimento de uma cidade na época em que se gasta mais água no ano. E que a geração de energia não será afetada, mesmo quando nas hidrelétricas os reservatórios estão secando. Podemos estar à beira de um grande apagão, ou de uma crise hídrica. Mas, em ano de Copa no Brasil, parece não haver interesse em discutir esses problemas. E todos nós poderemos ser pegos de surpresa. Por isso, volto à repetir, preparem-se!
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