domingo, 27 de abril de 2014

Na real: Não estamos preparados!

Não temos ideia de quando e nem como acontecerá um cenário de crise. Mas a minha pergunta é:

Como você se arranjará numa crise muito séria?

Vamos pensar aqui em três situações:

1) Você se prepara e tem todos os planos definidos caso um cenário de crise ocorra repentinamente. Acontece que você viajou para outro país, à trabalho ou à lazer quando a crise estoura.

2) Você está em sua cidade, também preparado e com tudo definido. Mas a crise resolve estourar quando você e seu núcleo estão separados, um em cada ponto da cidade.

3) Tudo dá certo, você e seu núcleo conseguem chegar ao refúgio. Está tudo preparado. Mas a crise parece ser longa e não há como saber o que está acontecendo.

A primeira situação seria a pior possível. Em um outro país, longe de suas preparações, longe de seu núcleo, e sem saber quanto tempo a crise vai durar, sem saber se você poderia voltar, sem saber como as pessoas do local se comportariam diante de uma situação atípica, realmente haveria muito pouco a ser feito. Talvez, ao perceber a crise, você até pudesse obter suprimentos de emergência. Mas as suas opções seriam severamente limitadas. E o baque psicológico seria imenso. Talvez você nunca mais pudesse voltar para casa. Seria extremamente desesperador. Você nem ao menos teria como saber como estariam as pessoas próximas à você, como estaria a sua família.
A segunda situação poderia variar entre contornável até extremamente desesperadora. Se você conseguisse reunir todas as pessoas que fazem parte de seu núcleo, já seria muito positivo, mesmo sem saber como estariam as suas rotas de fuga. Mas, se durante a confusão inicial uma ou mais pessoas do seu núcleo não conseguissem chegar, o desespero seria a atitude seguinte à ser tomada. Aguardar por um tempo e seguir para o refúgio sem o grupo completo? Ou esperar, mesmo sabendo que a situação na cidade se deteriora a cada minuto? Será que todos teriam a presença de espírito de pensar que, caso alguma coisa não desse certo, e a reunião não fosse possível, ir diretamente para o refúgio?
A terceira situação seria, em princípio, a mais tranquila. Só que, como você agiria ao perceber que o mundo extremamente conectado em que vivemos poderia nunca mais voltar a existir? Como você encararia a total falta de notícias, o total isolamento? Você nem ao menos saberia o que está acontecendo a 100m da sua casa. Como você encararia o fato de provavelmente você não teria mais contato com a maioria de seus amigos? E se você tiver parentes em outras cidades ou em outros países? Você nem ao menos saberia o que exatamente provocou a crise. Todas as facilidades do mundo moderno evaporariam. Como você encararia o fato de que a maioria das coisas que você gosta, como música, filmes, jogos, cerveja, futebol, Fórmula 1, festas, trabalho, supermercados, lanchonetes, redes sociais, internet, e tudo o que nos acostumamos desde crianças sumiram e podem nunca mais voltar? Você acha que teríamos um modo sobrevivencialista pronto para ser ligado em caso de crise e isso faria com que o passado fosse esquecido?
A gente sente saudade de coisas que marcaram nossa infância. A gente sente saudade de determinadas bandas, de determinados atletas, de determinados filmes ou seriados. A maioria são coisas supérfluas. mas que fizeram parte de nossas vidas. Imagine não contar mais com essas pequenas coisas da vida. Não poder ir à um shopping, para um programa típico de domingo, ou seja, cinema e lanche parece besteira. Até o momento em que nos damos conta de que isso sumiu para sempre.

O que quero dizer com esse post é que, ao contrário do que muita gente acha, mesmo o sobrevivencialista mais preparado vai sentir um tremendo baque caso uma crise muito séria nos atinja. Pensem bem. Às vezes temos uma certa resistência à mudanças mínimas nas nossas vidas. Imagine então uma mudança absurdamente radical trazida por uma crise realmente séria. Seria devastador. Até agora, você não tem dificuldade em obter comida. De uma hora para outra, por mais preparações que você tenha, vai chegar a hora em que você vai ter que caçar e plantar a sua comida. É um baque. Sofreremos. Às vezes, um homem leva uma vida inteira para aprender como lidar com a terra. Plantar não é jogar as sementes e algum tempo depois ir lá e colher os frutos. Plantar exige cuidado permanente. Caçar não é apontar e atirar na caça. Muitas vezes, caçar exige que você fique num canto, sem se mexer, por horas, e muitas vezes a espera vai ser em vão, porque você erra o tiro. Estaremos mesmo preparados para tudo isso?
As frustrações podem ser imensas. Se sua lanterna quebrar, pronto, acabou-se! Você não vai poder ir à cidade comprar outra. Sua roupa rasgou? Você vai ter que se virar e aprender a repará-la  O pior de uma crise não seriam as grandes mudanças. Seriam as pequenas coisas da vida. O cafezinho, o chocolate, o salgadinho, o tênis novo, a escova de dentes, o dvd, um sms, uma ligação telefônica, um refrigerante gelado, uma paquera... tudo isso perdido para sempre, ou totalmente modificado...

Me preparo, mas espero que JAMAIS a crise definitiva nos atinja...

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