Volto a bater nessa tecla.
Nessa semana achei um artigo sobre o enfraquecimento do campo magnético terrestre (em inglês) publicado no Daily Mail Online, jornal de grande popularidade na Inglaterra. A situação parece preocupar muito alguns cientistas, a ponto de colocar o aquecimento global em segundo plano.
A verdade é que muito pouco se sabe sobre o comportamento de diversos fatores relacionados ao campo magnético terrestre. Até pouco tempo, o comportamento tanto desse campo como o das emissões solares era praticamente deixado de lado, por trazer praticamente nenhuma influência na vida da civilização humana. Tudo isso mudou nos últimos 150 anos, com o uso cada vez maior de eletricidade e equipamentos elétricos e eletrônicos, transmissões e navegação via satélite. Eventos como o que ocorreu em Quebec, em 1989, em que uma tempestade solar destruiu redes elétricas e deixou a cidade sem energia por 9h deram o alerta sobre a vulnerabilidade de quanto a tecnologia é vulnerável à eventos espaciais.
Em 1989, não éramos nem de longe tão dependentes de dispositivos eletrônicos como hoje. A internet ainda dava os seus primeiros passos rumo à popularização, os celulares ainda eram pouco usados, e estavam longe da capacidade dos atuais smartphones. Mesmo os computadores, embora relativamente populares nos países desenvolvidos, ainda não eram tão importantes para as pessoas como hoje. O GPS ainda não estava totalmente operacional e seu uso era militar. Os aviões comerciais mais avançados da época usavam eletrônica embarcada, mas era algo bem mais rústico e muito menos essencial ao voo do que nos aviões modernos.
Se um evento como o de 1989 se repetisse hoje, os efeitos, embora não catastróficos, seriam muito mais visíveis. A interferência nos sistemas eletrônicos dos aviões em voo e nos sistemas de GPS seria bem intensa por algumas horas. A falta de energia em Quebec certamente desabilitaria muitos links de dados, servidores de internet, trazendo um maior prejuízo financeiro do que na época. Só que nos últimos 25 anos, houve um enfraquecimento linear do campo magnético terrestre da ordem de 1,5 a 2%. Enfraquecimento linear significa que nos últimos 150 a 200 anos, o referido campo enfraqueceu de 10 a 15% de forma constante. Só que os dados disponíveis são insuficientes para saber se tal enfraquecimento é realmente constante, ou se é exponencial, ou seja, se a velocidade do enfraquecimento vem aumentando com o tempo. Desde 1989 não tivemos tempestades solares muito fortes direcionadas para o planeta, por muita sorte. É possível que uma tempestade solar da mesma intensidade da que atingiu Quebec fosse mais devastadora hoje não só pela maior presença de eletrônica, mas também pela menor força do campo eletromagnético da Terra.
Um outro aspecto pouquíssimo comentado, principalmente porque os estudos feitos sobre a interação do campo magnético terrestre com o espaço são na sua maioria voltados para o Hemisfério Norte. As tempestades magnéticas também podem nos atingir aqui no Hemisfério Sul. Embora a civilização esteja mais distante do Polo Sul, por causa de vários fatores geográficos, nada impede que uma tempestade realmente forte nos afete aqui também. E há outro fator, que torna áreas do Brasil teoricamente mais vulneráveis à tempestades solares. Trata-se da Anomalia Magnética do Atlântico Sul, que é um "mergulho" ou "buraco" no campo magnético terrestre, onde os índices de radiação são bem maiores. Naves e satélites em órbita que passam por essa região, devem receber reforço nas suas proteções contra radiação. O antigo telescópio espacial Hubble tinha que parar as suas operações enquanto orbitava essa região. Soma-se a essa anomalia, o enfraquecimento do campo magnético da Terra e veremos que o nosso país parece ser muito mais vulnerável à tempestades solares do que o divulgado pela imprensa.
É claro que eventos como tempestades solares muito fortes são relativamente raros, e que este máximo solar está atipicamente fraco, porém longo. É preciso uma combinação de fatores para que a tempestade solar nos traga problemas. Ela tem que estar direcionada para a Terra, precisa ter uma grande velocidade e sua polaridade deve ser inversa a do campo magnético, ou seja, Sul. Mas, eventos como o de Quebec, e principalmente o de 1859, conhecido como Evento Carrington, que se acontecesse hoje, seria extremamente devastador, é um aviso de que a qualquer momento o Sol pode nos trazer surpresas. E com nossa blindagem magnética cada vez mais fraca, mesmo eventos antes considerados de menor magnitude podem nos trazer problemas.
Devemos nos manter sempre preparados.
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