Durante boa parte de 2014 e 2015, a questão hídrica foi exaustivamente discutida, tanto nos blogues e sites sobrevivencialistas, como na imprensa em geral. Três das maiores cidades brasileiras estavam seriamente ameaçadas por um colapso hídrico sem precedentes. Porém, para a sorte de quem vive em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte choveu bastante e os reservatórios de água se recuperaram bem. Certamente, medidas preventivas deveriam ser tomadas, a fim de evitar um cenário como o que vimos recentemente. No entanto, como é de praxe, nada está sendo feito. Se a região Sudeste enfrentar outra seca grave nos próximos anos, com o aumento da população e do uso da água, a próxima crise poderá ser ainda mais séria.
Porém, em algumas regiões brasileiras, especialmente no Nordeste, a crise hídrica ainda é uma realidade. O açude de Castanhão, localizado no Ceará e um dos maiores reservatórios nordestinos, está com um nível perigosamente baixo, a ponto de cidades do interior terem seu abastecimento interrompido, para que a água fosse usada para complementar o abastecimento da capital do estado, Fortaleza. Houveram protestos por parte das prefeituras das cidades atingidas. Analisando a situação mais friamente, começamos a vero nascimento de conflitos por causa do uso da água. No Rio Grande do Norte, a situação também é bastante complicada. A maioria dos reservatórios do estado está com o nível abaixo de 20%. A capital do estado, Natal, está atualmente em regime de racionamento.
Mas, a situação mais crítica em cidades de médio/grande porte é a de Campina Grande, na Paraíba, onde vivo.
O açude que abastece a cidade está com apenas 7,30% de sua capacidade. Alguns estudiosos em recursos hídricos alertam que o volume que pode ser efetivamente usado não passa de 2%, devido à má qualidade (contaminação por cianobactérias, esgoto e metais pesados e baixa oxigenação) e dificuldade de extração devido à baixa espessura da lâmina d'água,
O que é mais preocupante, no entanto, é que a maioria da população da cidade parece não perceber o quão séria é a situação. Muitos preferem acreditar que as chuvas virão, que "Deus vai ajudar", que o governo vai resolver quando realmente acabar, a transposição do São Francisco vai chegar à tempo (o que seria no fim deste ano, foi adiado para meados de 2017), etc. Sinceramente espero que chova a tempo, e que o manancial se recupere. Porém, se nada for feito no sentido de aumentar a capacidade do açude, e se a população e as empresas não repensarem o uso que fazem da água, esta situação se repetirá.
E se a água realmente acabar? O que acontecerá em uma cidade com cerca de 400 mil habitantes?
Não há como abastecer uma cidade deste tamanho sem água encanada. Então, algum esquema emergencial para trazer água teria que ser montado. Nos anos 30 e 40 do século passado, em situações de emergência, grandes quantidades de água eram trazidas de trem. Hoje, isso não seria possível, devido ao péssimo estado em que se encontra a malha ferroviária paraibana. Aí o abastecimento de emergência teria que ser feito com caminhões pipa. Só que seriam necessários centenas deles diariamente. Aí surgem outras questões:
De onde viria a água?
Quem receberia a água primeiro? Teoricamente, as escolas e hospitais, além das residências deveriam ter prioridade. Mas, como garantir isso? Como garantir que a água não fosse destinada a quem pode pagar mais por ela?
Quem faria o controle de qualidade da água?
Mas, mesmo as indagações acima podem soar, digamos, utópicas. Pois não há NENHUM esquema emergencial elaborado prevendo esta situação. O cenário mais provável, caso o pior aconteça, vai ser um vale-tudo, como o que vemos em regiões devastadas em outros lugares do planeta.
Pretendo escrever outro artigo, mergulhando mais fundo nas consequências de um desastre como esse.
Mas, deixo o seguinte recado:
Infelizmente, futuros distópicos dignos de ficção científica começam a bater em nossas portas. Devemos ficar cada vez mais atentos. O mundo está mudando rápido e o que era extremamente improvável de repente vira realidade. Afinal, ninguém imaginaria que no inverno ártico pudessem ser registradas temperaturas amenas. Mas foi isso que aconteceu no último inverno lá.
Fiquemos de olho! E preparados!
Nenhum comentário:
Postar um comentário