Imagine a seguinte situação:
Vamos ter que sair de casa, por um motivo qualquer. A primeira coisa que faço é verificar se todas as portas e janelas estão devidamente trancadas. Depois, tranco a porta da frente (com 2 fechaduras tetra, além da normal), aciono o alarme contra invasores e vou para a garagem. Entro no carro, travo as portas, coloco o cinto de segurança. Mas, antes de ligar o motor, pego o celular e acesso a imagem da câmera externa, para ver se está tudo tranquilo. Só então, ligo o carro e abro o portão de controle remoto. Saio com o carro rapidamente da garagem e fecho o portão.
Durante todo o caminho para o local onde pretendo ir, observo o trânsito atentamente, de olho especialmente nas motos. Chego ao destino, mas antes de estacionar, dou uma volta pelo quarteirão, para ver se não tem nada suspeito. Só aí estaciono o carro. Saio dele rapidamente, e aciono o alarme...
Para voltar para casa, antes de ir para o carro, observo a rua, em busca de algo suspeito. Entro no carro, e dirijo até em casa. Mais uma vez, antes de entrar, observo o movimento na rua, e só aí, aciono o portão, coloco rapidamente o carro na garagem e já o fecho. Saio do carro, ligo o alarme dele, desligo o da casa, destranco as 3 fechaduras da porta, entro, e tranco de novo a porta. Finalmente em casa...
Parece coisa de maluco, não é?
Mas é assim que muitos de nós estão vivendo. Num constante estado de atenção. É impossível relaxar totalmente em nossas cidades. Na verdade, é impossível relaxar em qualquer lugar. Mesmo nas propriedades rurais, incluindo as mais simples, as mais pobres, não há mais sossego. A sensação de insegurança é incessante. E, pelo andar da carruagem, parece não haver sinal de melhora num futuro próximo.
Nós, que nos preparamos para cenários de crise devemos nos perguntar o que exatamente estamos esperando. Falhas catastróficas dos serviços que mantém os sistemas que nos apoiam são uma possibilidade bastante improvável, embora longe de ser desprezível. Temos que nos preparar para isso também. Mas a nossa situação de insegurança atual não representa já um estado de crise? O que é pior é que não foi algo abrupto. Ela vem chegando aos poucos.
Ainda me lembro que, quando criança, a casa em que eu morava tinha um muro baixo, com um portão sem trancas, e portas com fechaduras simples, que seriam arrombadas facilmente com um chute. A medida em que o tempo foi passando, o muro subiu, as portas foram trocadas, os terraços e janelas foram gradeados, o muro ganhou primeiramente grampos, depois cercas elétricas, portões motorizados controlados remotamente e câmeras com monitoramento via internet foram adicionadas... Sem falar no alarme e do contrato com uma empresa de segurança 24h.
Cidades antes calmas, agora sofrem com todo tipo de crime. Até mesmo ações e armamentos que só veríamos em guerras ou filmes de ação de Hollywood, agora fazem parte da rotina das grandes e pequenas cidades brasileiras.
A maior lição que a insegurança de hoje pode nos dar é que a a maioria das crises que podemos enfrentar não surge de uma hora para outra. Ela leva semanas, meses, anos, décadas. Devemos prestar atenção aos sinais...
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