quarta-feira, 25 de junho de 2014

Pandemia, OMS, MSF e o que não sabemos

Temos acompanhado nos noticiários internacionais o mais recente surto de Ebola, no oeste da África. Países como Mali, Serra-Leoa, Guiné e Libéria estão sendo infectados com a mais extensa epidemia da doença já vista neste século. O que é realmente perturbador não é a doença em si, mas a maneira como as organizações internacionais estão lidando com isso. Em 2012, Uganda foi atingida por um surto de Ebola. O MSF (Médicos Sem Fronteiras) treinou equipes médicas ugandenses e construiu instalações que possibilitaram não só o controle do surto, como também a possibilidade de conter novos problemas no futuro. A pergunta chave é porque tal organização, que é financiada por doações de países que tem interesses na área do atual surto, como a França, não tomou medidas semelhantes nos países africanos atualmente afetados pela doença?
Vejamos o exemplo de Mali. Este país tem unidades militares francesas em seu território. É um país chave para as ambições do país europeu no continente. A França investe milhões de euros para manter as chamadas "operações militares em prol da democracia e direitos humanos". Então, porque não usar uma pequena parte desse dinheiro para, como foi feito em Uganda, para proteger a população deste país contra surtos de doenças mortais? E porque a OMS (Organização Mundial da Saúde), ao detectar os surtos, não mandou imediatamente equipes especializadas (como aparece nos filmes de Hollywood) para lá?
Nós, ocidentais, somos manipulados pela mídia e acreditamos que, em caso de surtos de doenças mortais, estas organizações internacionais vão agir imediatamente, em qualquer lugar do mundo, afim de proteger a humanidade de algo realmente grave. Mas na verdade, a realidade é muito mais complexa, e muito mais cruel.  Vamos imaginar algumas situações:

1) Um surto de influenza na Coréia do Norte.

Como qualquer organização mundial (quer dizer, ocidental, ou seja OMS ou MSF)  iria entrar no país mais fechado do mundo, para conter o que quer que seja? Mesmo que houvesse pressão dos aliados norte-coreanos, como a China, para que tal medida fosse tomada, não seria algo imediato. Poderia demorar semanas e haveria, sem dúvidas, o risco de tal doença se espalhar pela Ásia. A Coréia do Norte é bastante isolada, mas não é 100% fechada. Nada impediria por exemplo que eventuais turistas (há algumas visitas guiadas ao país) ou diplomatas viessem a ser contaminados com o vírus e o levassem para seus países de origem.

2) Experiências?

Voltando ao caso do Mali. Quando vemos a negligência francesa ao não proteger minimamente a população de sua "colônia" africana parece haver algo mais sinistro no ar. Infelizmente não há método mais eficiente de se estudar o comportamento de uma doença do que deixando-a disseminar-se em uma determinada população. Sabemos que as grandes potências mundiais muitas vezes já usaram (e ainda usam) determinadas populações como verdadeiras cobaias. O exemplo máximo disso foi o ataque americano à Hiroxima e Nagasaki. Não havia nenhum motivo para tal ataque, a não ser testar os efeitos da bomba atômica em cidades reais, com populações reais.
Porém, deixar propositalmente uma doença se espalhar em uma população é uma extrema irresponsabilidade. E quem está fazendo isso pode pagar caro depois. Quem garante que tal doença não se torne incontrolável? Quem garante que um vírus Ebola não possa adquirir a capacidade de ser transmitido pelo ar? A verdade é que se conhece muito pouco sobre o Ebola. Existe a possibilidade de que tal vírus seja produto não da Natureza, mas do homem? A forma como as potências estão agindo nessa crise parecem reforçar isto. Mas, pensando bem, é melhor não supor nada. Só o fato de não ajudar as populações atingidas por esta doença já é grave o suficiente.

3) SARS e mídia

As reações desequilibradas da mídia em relação à esta e outras doenças à princípio podem parecer exagero. Mas na verdade, parecem ser feitas de forma totalmente premeditadas. Se a mídia alardeia que um surto de SARS pode virar uma pandemia mundial, que estamos todos em grande perigo, mas que depois os casos da doença são relativamente poucos, isso vai levar a população em geral a agir da seguinte maneira:
- Nunca mais vão acreditar em notícias alarmantes sobre surtos de doenças
- E, se não acreditam mais em surtos de doenças, provavelmente não lerão as notícias sobre o atual surto de Ebola e o sofrimento pelo qual populações pobres da África Ocidental estão passando. Ao fazer isso, a poderosa opinião pública, que poderia exigir ações mais enérgicas para combater a doença, ficará inativa. E as grandes potências mundiais continuarão, na surdina, a fazer o que bem entenderem em muitos lugares do mundo.
Se você sair na rua hoje e perguntar às pessoas se alguém sabe que um surto de Ebola está em curso na África, certamente a maioria mostrará desconhecimento. E, mesmo as que possam vir à saber farão pouco caso.

O que quero dizer com tudo isso é que não podemos confiar em nada. Que, em caso do surgimento de doenças contagiosas, cada área do mundo terá um tratamento, de acordo com sua importância no cenário geopolítico. É irresponsável pensar dessa maneira. Com o mundo tão interligado, alguém contaminado com qualquer doença pode estar em qualquer lugar do mundo em um dia. Mas, os poderosos ainda não aprenderam que as doenças não escolhem ricos ou pobres. Sabemos muito pouco. Afinal só começamos a estudar mais seriamente os seres vivos há poucas décadas. A Natureza está há milhões...
Dependeremos exclusivamente de nossa sensibilidade para perceber potenciais perigos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário