quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Anestesiados

Não sei se este é um sentimento comum à meus colegas sobrevivencialistas. Mas, às vezes, me sinto revoltado em relação à maioria das pessoas, por elas simplesmente não perceberem que estamos nos esfacelando. Vejam a que ponto chegamos:

Em boa parte das cidades do país, não importando o tamanho, não se tem mais segurança. De caixas eletrônicos a shoppings, passando por supermercados, residências, veículos, transporte público, urbano ou intermunicipal, escolas, templos religiosos e até mesmo delegacias de polícia, nada está à salvo dos bandidos, que, certos de sua impunidade, agem de forma cada vez mais audaciosa. Se são presos, pouco tempo depois acabam soltos. 

A crise política que nos atinge é, sem dúvida, a mais séria que já tivemos. De um lado, um governo federal imerso em corrupção e que tomou decisões desastrosas para a economia. De outro, uma oposição igualmente imersa em corrupção e que está interessada não na melhoria das condições do país, mas apenas tomar o poder em proveito próprio. 

A crise econômica é séria, embora, até agora, não seja tão grave como as que já enfrentamos nos anos 80. Mas, mesmo assim, vemos milhões de pessoas perdendo seus empregos, milhares de lojas fechando, os preços ao consumidor aumentando sem parar. E, pelas projeções do próprio governo, a crise durará pelo menos até 2017. 

A crise hídrica, que, apesar de sua gravidade, tem sido deixada meio de lado pela imprensa, dando a falsa impressão de que já foi solucionada. Os níveis dos reservatórios em boa parte do país continuam a cair, e absolutamente nada é feito, salvo obras que servem de paliativos e que empurram o problema com a barriga para os próximos anos. 

As cada vez mais intensas mudanças climáticas. Vejam o exemplo de Porto Alegre, que teve o seu sistema de comportas para evitar inundações acionado pela primeira vez na história. A cidade escapou de uma gravíssima inundação por um triz, porque choveu tanto que quase que o tal sistema não dava conta. Pelo mundo, vimos neste verão do hemisfério Norte os maiores incêndios florestais da história, e, neste momento, a Indonésia sofre com este problema numa escala jamais vista. 

Não me conformo com a falta de reações das pessoas. Não há protestos. Tenho idade suficiente para lembrar que já houveram protestos gigantescos contra o governo nos anos 80 e 90 que mudaram os rumos do país. Mas parece que se perdeu esta capacidade de mobilização. Protesto hoje é sinônimo de diversão. Parecem estar todos anestesiados, alheios à gravidade da situação. 
No passado, enfrentamos problemas sérios. Já passamos por outras crises políticas e econômicas. Já passamos por racionamento de água e até mesmo de energia. 
Mas nunca passamos por tudo isso AO MESMO TEMPO. 
E quase ninguém liga. As pessoas não param para pensar que NÃO É NORMAL ter que colocar muros altos, grades, câmeras e outros sistemas de segurança em casa (quem pode fazer isso, é claro). NÃO É NORMAL criar um grupo de vizinhos em aplicativos de comunicação no celular para que eles possam avisar uns aos outros se possíveis bandidos estão rondando pela região. ESTÁ MUITO LONGE DO NORMAL ver uma ESCOLA ser assaltada 3, 4, 5, 10 vezes num ano. NÃO É NORMAL ter um racionamento de água de 15 dias por mês. NÃO É NORMAL ver as principais cidades brasileiras ameaçadas por uma crise hídrica. 
São inúmeros os problemas que estamos enfrentando neste momento. Mas a maioria das pessoas vivem como se não houvesse nada errado. 
E, se falamos alguma coisa em relação aos problemas, seja nas conversas com os amigos, seja nas redes sociais, somos malucos, pessimistas, doidos, fanáticos, agourentos... Simplesmente se recusam a ver. Parece ser mais fácil se refugiar na mediocridade reinante dos memes, das fofocas, dos esportes. Ficam esperando pelo "salvador da pátria", uma figura humana que vai resolver num piscar de olhos tudo o que há de errado...
Enquanto isso, tudo vai desabando. 
Então, o pessimista aqui, vai se preparando. Enquanto eu rezo por um milagre, na forma de chuvas torrenciais nos reservatórios, na forma de uma iluminação divina na mente dos políticos e na abertura dos olhos das pessoas comuns, me previno para a quase certa degradação dos cenários econômico e climático...
Meteoros, tempestades solares, supervulcões e outros desastres da natureza podem (e vão) acontecer. Mas o que nos ameaça a todo momento é a maneira como estamos lidando com os problemas que nos cercam e que, embora não tenham um impacto imediato, vão, aos poucos, nos levando para uma situação sem volta. Se continuar assim, é possível que cheguemos à uma situação descrita no filme No Mundo de 2020 (é um filme distópico dos anos 70, no qual já havia a preocupação com temas ligados à degradação ambiental, econômica e à mudanças climáticas). A maioria dos vivos vai invejar os mortos...

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