De tempos em tempos, a Coreia do Norte testa mísseis ou armas nucleares. As grandes potências ocidentais se reúnem e impõem (inúteis) sanções econômicas à Pyongyang. Os EUA e a Coreia do Sul fazem exercícios militares, que são tomados pela Coreia do Norte como preparativos para possíveis ataques e/ou invasão. A tensão se eleva. Mas, passadas algumas semanas, os ânimos esfriam, e a situação volta ao nível de tensão normal, típico da península coreana, posto que o Norte e o Sul estão tecnicamente em guerra desde os anos 50.
Os governos americanos anteriores, mesmo os republicanos, como por exemplo o de George W. Bush, que são conhecidos pela sua "diplomacia do míssil", evitavam maiores ações contra a Coreia do Norte. Por se tratar de uma região economicamente vital para os EUA (e para o mundo), onde, além da Coreia do Sul, está também o Japão, sempre houve uma preocupação muito grande em evitar tocar os tambores da guerra por essas bandas. Porém, isto parece não passar pela cabeça do atual governo americano, do presidente Donald Trump.
Antes de mais nada, deve-se esclarecer que o presidente americano, para declarar guerra à uma nação, precisa do aval do Congresso americano. Porém, ele pode autorizar ações como ataques limitados (como o ocorrido semana passada à base aérea de Shayrat, na Síria) e envio de tropas à qualquer região do mundo.
E é este poder de atacar quando der na telha é que deve causar preocupações em relação à situação envolvendo a Coreia do Norte. Se Trump autorizou um ataque à um dos principais aliados da Rússia de Vladmir Putin, que era algo considerado impensável, dada à extrema complexidade do cenário sírio, que, além da Rússia, envolve Estado Islâmico, o regime de Bashar Al-Assad, dentre outros participantes, o que o impedirá de agir contra um inimigo declarado dos EUA, num cenário teoricamente mais ''simples", já que a ameaça é bem conhecida?
Muitos analistas consideram o fato de que um ataque convencional americano poderia acabar totalmente com o desenvolvimento de armas atômicas por parte da Coreia do Norte. Porém, em retaliação, os norte-coreanos poderiam partir com força total para cima da Coreia do Sul, trazendo consequências inimagináveis no campo econômico. Além disso, haveria um risco de a Coreia do Norte usar suas armas nucleares.
Ao contrário do que se possa imaginar, o grande problema do uso de armas nucleares hoje, mesmo as de "baixa potência", que deve ser a que a tecnologia norte-coreana é capaz de produzir, não são os efeitos rotineiramente associados à este tipo de arma, como o grande poder de destruição pelas altas temperaturas e radiação (embora não sejam efeitos desprezíveis, claro). É o poder que este tipo de arma tem de gerar pulsos eletro-magnéticos capazes de destruir quaisquer equipamentos eletrônicos desprotegidos. Se uma bomba nuclear for detonada numa altitude entre 30 e 200 km da superfície da Terra, o pulso pode afetar equipamentos num raio de dezenas ou centenas de quilômetros do centro da explosão. Imagine países como Coreia do Sul e Japão totalmente desconectados do mundo, de volta à uma era pré-eletrônica. E imagine o quanto isto afetaria as economias mundo afora, sem falar nas populações destes países.
Existe ainda um outro fator em relação à península coreana. A China é a principal apoiadora do regime norte-coreano. Como será que os chineses agiriam se os EUA atacassem a Coreia. Existem basicamente dois cenários possíveis. Ou a China "lavaria as mãos" e deixaria que Pyongyang sofresse sozinha as consequências de seus atos, ou ela se colocaria numa situação de confronto com os EUA, para proteger seu aliado.
Seja como for, devemos desejar que os líderes dos EUA e da Coreia do Norte não cheguem às vias de fato. Ou o planeta poderá passar pela maior crise da história...